22 de junho de 1941, exatos 129 anos após a invasão da Rússia por Napoleão Bonaparte, iniciou-se a operação Barbarossa, a invasão da União Soviética pela Alemanha nazista. Hitler dissera a seus generais: “quando a operação Barbarossa iniciar, o mundo prenderá a respiração”. De fato, foi a maior mobilização de tropas da História, reunindo 3,8 milhões de soldados numa frente de 2.900 Km.
Desde a remilitarização da Renânia, em março de 1936, o renovado imperialismo alemão já anexara a Áustria e a região tcheca dos Sudetos (1938); o restante da Tchecoeslováquia e a porção oeste da Polônia (1939); a Dinamarca, Noruega, Bélgica, Luxemburgo, Holanda e França (1940) e a região dos Balcãs (Iugoslávia, Albânia e Grécia), em 1941. Hungria, Romênia, Bulgária e Finlândia haviam se tornado Estados vassalos do 4º Reich.
Fora do domínio alemão restavam na Europa os regimes fascistas da Península Ibérica (Espanha e Portugal); as “neutras” Suíça e Suécia; a Grã-Bretanha e a União Soviética. A ocupação desta consolidaria o domínio absoluto alemão sobre a Europa Continental e representaria a realização do lebensraum, a conquista do espaço vital para o povo alemão às custas dos povos eslavos do Leste (russos, bielorrussos, ucranianos e outros), processo advindo do século XIII, com os cavaleiros Teutônicos e a Liga Hanseática.
Três meses após a invasão, a Wehrmacht havia penetrado fundo em território soviético (750 km), conquistado Kiev, sua terceira maior cidade; cercado Leningrado, segunda maior cidade e berço da Revolução Bolchevique e alcançado Smolensk, a menos de 300 Km da capital Moscou.
O sucesso alemão, em grande parte, derivou de sua formidável máquina de guerra, mas também do desmantelamento provocado por Stálin na cúpula do Exército Vermelho, pois nos processos de Moscou de 1937 expurgara 3 dos 5 marechais, 13 dos 15 comandantes de exército e 167 dos 280 comandantes de corpos de exército e de exército, muitos mortos, assim como foram fuzilados os 11 Subcomissários da Defesa e 75 dos 80 membros do Soviete Militar existentes em 1937.
Mas a resistência do povo russo falou mais alto, e o avanço de cerca de 30 Km/dia nas 3 primeiras semanas, reduzira-se a 6 ou 7 Km/dia nas semanas seguintes. Em 30 de setembro teve início a Operação Tufão, ofensiva final sobre Moscou. O avanço foi veloz até a metade de outubro, favorecido pela superioridade alemã em tropas (1 milhão versus 800 mil), tanques e aeronaves, tendo neste período conquistado cidades importantes como Briansk, Vyazma, Kaluga e Kalinin.
Em 19 de outubro chegara a apenas 30 Km da capital, levando à decretação do Estado de Sítio em Moscou, com a transferência de parte do governo e do corpo diplomático para Kuybyshev, a leste dos Montes Urais. Mas o quadro já começara a mudar com a chegada do general Zukov, em 12 de outubro.
E com o agravamento da rasputitsa (estradas lamacentas); a chegada de reservas da Sibéria e a enorme determinação dos soldados, dos guerrilheiros e do povo soviético em geral, o avanço alemão foi contido no fim de novembro. Teve então início uma vigorosa contraofensiva, que expulsou os alemães para a linha de Kalinin-Kaluga-Orel, cerca de 100 a 150 Km a oeste de Moscou no fim de dezembro.
Os nazistas perderam 500 mil homens, 1,3 mil tanques, 2,5 mil canhões e 15 mil veículos, sofrendo sua primeira derrota na 2ª Guerra. Estava selada a sorte da guerra. Depois vieram Stalingrado, Kursk e o avanço até Berlim. Era o princípio do fim do sonho do imperialismo alemão de subjugar os povos eslavos.
(*) Doutor em Desenvolvimento Econômico Sustentável, ex-presidente da Codeplan e do Conselho Federal de Economia
** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasília Capital