Os tempos em que a boa recuperação da indústria, registrada em 2023 e 2024, começam a naufragar, atingidos pela absurda e injustificada elevação da taxa de juros. Porém, destaco o estudo “Cidades Industriais Brasileiras” realizado pelo Dieese, em parceria com a Federação dos Sindicatos dos Metalúrgicos da CUT/SP e o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que analisa o desempenho da indústria de transformação no Brasil de 2002 a 2021, nas unidades federativas e nas 100 principais cidades industriais brasileiras, especificamente envolvendo a geração de emprego.
Em 2002 o Brasil possuía 5,21 milhões de trabalhadores na indústria de transformação. Esse contingente cresceu 56% (para 8,15 milhões em 2012), refluindo 6,5% (7,62 milhões em 2021). De 2002 a 2012, nos 8 anos do governo Lula e aos dois primeiros do governo Dilma, todas as macrorregiões apresentaram expansão do emprego industrial, com destaque no Centro-Oeste, onde cresceu 103% (de 232 mil para 471 mil). O crescimento também foi acima da média nacional na região Norte (71%), de 168 mil para 287 mil, e no Nordeste (68%), de 646 mil para 1,086 milhão), com a geração de 440 mil postos de trabalho na indústria.
No Sudeste e no Sul, mais industrializados, o crescimento foi mais modesto – aumento de 53% (de 2,78 milhões para 4,25 milhões) e de 48% (de 1,38 milhão para 2,05 milhões), respectivamente. Mas, nestas duas macrorregiões, há expressivas diferenças no crescimento do emprego entre os estados. No Sudeste, juntando São Paulo e Rio de Janeiro, o aumento foi de 50% enquanto em Minas e no Espírito Santo foi de 63%. No Sul, enquanto o crescimento no Paraná e Santa Catarina foi de 60%, no Rio Grande do Sul foi a metade (31%).
Já de 2012 a 2021, compreendendo os últimos 3 anos do governo Dilma, mais 3 anos de Temer e 3 anos de Bolsonaro, embora tenha havido queda de 6,5% no emprego industrial no país, nem todas as regiões tiveram desempenho negativo. A queda maior foi no Sudeste (-12,5%), com perda de 526 mil postos de trabalho, concentrada em SP/RJ, visto que em MG/ES a perda foi marginal (menos 16 mil postos). No Nordeste, a queda também foi expressiva, de 9% (perda de 100 mil postos na indústria), e menos intensa no Norte (queda de 4,5%).
Mas no Centro-Oeste o emprego na indústria cresceu 8%, notadamente no Mato Grosso (17%), e surpreendentemente, houve expansão no Sul (3%), apesar da queda no RS (-8%), graças ao forte aumento em SC (16%) e mais modesto no PR (4%). Em suma, o emprego industrial no Brasil tem crescido mais sustentavelmente em dois estados da região Sul (SC e PR) e no Centro-Oeste.
Quando se observa o desempenho do emprego industrial entre as cidades, o resultado demanda uma apurada reflexão, pois os centros urbanos que apresentaram melhor desempenho são aqueles que se colocaram na dianteira para a atração de investimentos, ofertando, entre outros fatores, melhor infraestrutura e trabalhadores mais qualificados.
Num contexto em que o emprego industrial decresceu nas regiões metropolitanas, o destaque ficou com as cidades do nordeste catarinense e do cinturão do agronegócio, que envolve cidades nas regiões Sul e Centro-Oeste. O bom desempenho das cidades industriais do Nordeste de Santa Catarina foi puxado por Joinville, com a geração de 30 mil empregos na indústria de 2002 a 2021 (aumento de 60%). Já em Blumenau, Jaraguá do Sul, Itajaí e Brusque houve a geração de mais de 10 mil novos postos de trabalho em cada uma no período.
Nas regiões em que predomina o agronegócio, os destaques ficaram com Chapecó (SC), com crescimento de 161% (quase 20 mil novos postos); Cascavel (PR), com mais de 15 mil (aumento de 167%); secundadas por Toledo (PR), Uberlândia (MG), Campo Grande (MS) e Rio Verde (GO), todas ampliando seus contingentes de trabalhadores industriais em cerca de 10 mil no período.
Fora desses dois cenários, a expansão foi também expressiva em alguns centros industriais paulistas, como Sorocaba, Piracicaba e Jundiaí, e alguns centros nordestinos, como Feira de Santana e Vitória da Conquista. Na Bahia. Em alguns casos, crescimentos excepcionais derivaram de situações específicas, como Macaé (RJ), com aumento de 223% decorrente da indústria de equipamentos de exploração do petróleo e Goiana (PE), com aumento de 289% advindo da instalação da fábrica da Jeep.
Por fim, destaque para Brasília, com criação de quase 20 mil novos empregos industriais (aumento de 103%) e da vizinha Anápolis, com mais de 20 mil novos postos e crescimento de 178%.
No próximo artigo analisarei o caso dessas duas cidades no contexto do Eixo Brasília-Anápolis-Goiânia.