Até sexta-feira (28), o Brasil atingiu 118.649 mil mortos e 3.761.391 milhões de contaminados pelo novo coronavírus, causador da covid-19, doença à qual o Presidente da República nega sua letalidade desde o início da pandemia e insiste em receitar o tratamento com Cloroquina, remédio sem comprovada eficácia científica.
No Rio de Janeiro, as investigações apontam que o ex-assessor do então deputado estadual Flávio Bolsonaro (Republicanos), Fabrício Queiroz, fez seguidos depósitos na conta da mulher do hoje senador e do próprio filho 01 do Presidente.
O Presidente, ao longo dos 5 meses de pandemia, jamais demonstrou empatia pelas vítimas da covid-19, à qual, mesmo depois de ele próprio ter sido contaminado e de a avó de sua mulher ter morrido, continua tratando como uma “gripezinha”.
Mas Jair Bolsonaro, pai do 01, sabe se colocar no lugar de seu primogênito – como, de resto, de toda a prole – quando questionado sobre as traquinagens dos filhos. No domingo (23), diante da simples pergunta de um repórter d’O Globo quanto aos depósitos de R$ 89 mil, feitos por Queiroz na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro, voltou a expor seus “instintos mais primitivos”: “Minha vontade é encher tua boca de porrada”.
Candidato ao Senado pelo DF em 2018, o advogado Paulo Roque (Novo) não concorda com as reações destemperadas de Bolsonaro. “Os próprios aliados dizem que esse é um dos grandes defeitos dele: cria crises desnecessárias quando fala de improviso, faz aquelas entrevistas no cercadinho do Palácio da Alvorada”.
Paulo Roque lembra que até o jornalista José Luiz Dantena, apoiador do presidente, disse que ele foi extremamente infeliz. “Eu concordo com o Datena. O Presidente tem que evitar esse tipo de situação. Ele é o principal mandatário do País”, diz o advogado.
O professor Joel Arruda publicou um vídeo em seu canal Professor Joel Arruda de Souza, no Youtube, enumerando os equívocos de Bolsonaro desde o início da pandemia, para concluir que o Presidente tem culpa pelo descontrole com que a pandemia atingiu o Brasil.
“O chefe da nação tem uma influência muito grande. Nosso presidente é armamentista. Então, aumentou o registro de armas; tem posições complexas sobre o meio ambiente, sobre índios. Aí, aumenta-se a invasão a territórios indígenas e o desmatamento; tem respostas estúpidas. Cresce o grau de estupidez da sociedade”, exemplifica.
Joel Arruda cita o ex-mandatário inglês Winston Churchill: “Em uma democracia, você pode não gostar da imprensa, mas tem de respeitá-la”. O professor afirma que “muitas vezes o Presidente se viu acuado com perguntas indesejadas da imprensa, perguntas até impertinentes, mas não é ele que pauta a imprensa. E isso se chama liberdade da imprensa para buscar o que quiser e noticiar o que quiser”.
Paulo Roque avalia que, por sua vontade de encher a boca do jornalista de porrada, Bolsonaro “seguramente vai responder a uma ação de danos morais, como já tem outras ações em situações semelhantes, porque, em regra, se você identificar que aquilo viola o direito da personalidade, quer dizer, está ali trabalhando e alguém fala “olha, a minha vontade aqui é de te violentar”, evidentemente expôs o jornalista. E, em situações parecidas, isso tem dado uma ação de dano moral”.
O advogado não acredita, porém, que dificilmente caberá algum tipo de ação penal. “Não sei se configuraria um crime de ameaça, até porque muitos sustentam que o Presidente não passaria da palavra à ação. Seria uma forma hiperbólica dele falar sobre o ódio naquela situação específica, porque estava diante de uma pergunta que considera inconveniente”, completa Paulo Roque, para quem “o caso Queiroz vai perseguir Bolsonaro até o final do mandato”.
Para Joel Arruda, a principal culpa de Bolsonaro está em seus erros na condução das estratégias de combate ao novo coronavírus. “A pandemia vem destruindo vidas diariamente e estratégias nacionais não foram coordenadas. O presidente é agressivo, desdenha de minorias, faz chacotas com problemas sociais. Ele é o presidente do Brasil, não é mais um deputado qualquer. A culpa é dele. Ele não tem mais como abandonar isso. Não era para o Brasil ter essa quantidade de mortes se nós tivéssemos seguido a ciência”, completa o professor.
Na opinião de Arruda, a irresponsabilidade de Bolsonaro fez a sociedade “embarcar com ele” contra a ciência, apoiando o uso de medicamentos sem comprovação científica, não cumprindo o isolamento social nem usando máscaras. “Esse comportamento irresponsável passou uma falsa sensação de que a covid-19 seria apenas uma ‘’gripezinha’’, além de outras expressões minimizadoras utilizadas pelo líder da nação.
“Então, o Presidente tem parte da sua narrativa como culpa desse aumento na contaminação. O nosso platô é o único do mundo. Nenhum país passou por isso. Só os Estados Unidos, liderado por um governo do mesmo modelo que no Brasil. Um governo que nega a ciência, que não respeita a medicina. Então, de quem é a culpa? É nossa. Mas ela é muito mais de quem nos conduz”, encerra o professor.