É um pouco de maldade sua me deixar sair assim, aos poucos, me despedindo em pedaços, em insinuações que você não interrompe, mas também não apoia. É um me deixar ir, mas que não diz o sim e que não grita o não. Fazendo-me sair sem saber se o fim está perceptível. Fazendo-me ir sem a certeza se eu devo ou não olhar pra trás.
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O pior de tudo é você não corresponder o meu adeus. É você não estar aqui enquanto eu começo a me afastar. É um abandono covarde. Você fecha os olhos enquanto os meus pesam em lágrimas. Você não questiona dúvidas, enquanto meu coração se apavora em incertezas. Você se cala, enquanto eu berro; ou você fala tudo de você que eu queria calar dentro de mim.
É uma maldade tua me deixar partir sem me ajudar. Sem dividir os bens e as emoções. Sem repartir os sonhos quebrados, sem ajudar a apagar a fantasia. É uma corrupção, uma afronta. É uma invasão vazia, onde você preenche tudo que faz sofrer, mas não está aqui para responder, para se responsabilizar.
Eu nunca tive medo de te perder. Mas sempre me preocupei com a forma que você poderia nos deixar. Não tenho medo do adeus, tenho medo de horas quebradas. De segundos não preenchidos. De certezas não vividas. Se você vai, tudo bem. Mas assuma que a hora é de ir embora. Pule os muros. Corresponda o momento de partir.
Pode ser uma maldade tua. Uma agressão. Nosso amor se eternizou quando acabou. Não me preocupo, de verdade, em estar indo embora. Preocupo-me com as faltas que você tem cometido neste fim. Com o adeus calado. Com as verdades não ditas. Com a falta de cerimônia. E com os excessos, que você não quer repartir.
Eu sempre soube que as coisas poderiam acabar na saudade. Não é isso que me preocupa. O que machuca é a sua maldade em permitir o fim sem carregar sua parte. Mesmo sabendo que há muito de você que irá ficar. Mesmo sabendo que haverá uma vida depois de nós dois para eu lidar. Mesmo sabendo que o tempo que acabamos o \’nós\’, não é o mesmo tempo que as coisas irão se findar dentro de mim.
É me fazer ir embora olhando para trás para ter certeza do adeus. Fazer-me partir, aos poucos. Quebrando o passado. Quebrando as coisas que persistem em me fazer querer voltar. A sua maldade é não dividir o fim.
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