“Quero dizer a esse ministro que ele tem tempo ainda de arquivar seus inquéritos. Sai Alexandre de Moraes, deixa de ser canalha.” O trecho mais quente do discurso de Bolsonaro no 7 de setembro todos conhecem, assim como sua arregada dois dias depois. Mas, o que é, exatamente, um canalha? Pessoa abjeta, infame, velhaca, desprezível, mau-caráter, patife.
Esta é a descrição do próprio Bolsonaro por aqueles que o cercam e de grande parte dos “homens de bem” que compõem sua base social (empresários, ruralistas, militares, policiais, milicianos). Ruralistas que querem uma ditadura para não ter travas em suas ações de grilagem, desmatamento e expulsão de indígenas; militares golpistas que querem manter a “boquinha”; etc.
Pessoas como o general Augusto Heleno, abjeta e de índole autoritária. Já em 1977, como capitão, participou da conspiração do general Sylvio Frota para derrubar Geisel e endurecer ainda mais a ditadura. Em 2004/5, comandando a missão da ONU no Haiti, promoveu, em Porto Príncipe, a operação Punho de Ferro (massacre de 70 haitianos, inclusive crianças. Em 2007/9, Comandante Militar da Amazônia, Heleno criticava publicamente a política indigenista e ambiental do governo Lula, defendendo a ação de grileiros, desmatadores e mineradores.
Foi para a reserva em 2011, ano em que Dilma, a quem chamava de “terrorista”, assumiu a presidência, e se tornou consultor da Band e diretor do COB. Reapareceu em 2018 cantando na convenção do PSL “Se gritar pega Centrão….” execrando o hoje aliado.
Agora, após o arrego de Bolsonaro, o ministro do GSI conclama os bolsonaristas a não desistirem: “Nosso presidente possui um formidável senso político” (sic) e “completamos mil dias de governo sem nenhum escândalo de corrupção” (sic). Seria ele a eminência parda de Bolsonaro, como fora Golbery para Geisel? Não, muito tosco para tanto. Ah, sim, ante possível contestação judicial, “quero declarar que minhas palavras, por vezes contundentes, decorrem do calor do momento.”
MBL
os atos do MBL e VPR de 12/9 foram um fiasco. Nenhuma surpresa. Afinal, ambos não passam de grupelhos criados e financiados pela norte-americana Atlas Network, assim como outros 450 grupos de extrema direita em 90 países. Agrupamentos “bolsonarianos” sem Bolsonaro. Basta ver como seus partidários votam no Congresso Nacional.
Ocorre que, na hora do aperto, os ratos abandonam o navio. Para quem duvida dos reais objetivos do MBL, uma rápida olhada em sua página revelará que há três anúncios de produtos (camisetas) com “Fora Bolsonaro”, mas nada menos que oito (camisetas, moletons, máscaras, canecas) com “Nem Lula & Nem Bolsonaro”. Não por acaso lá estiveram Doria, Mandetta, Amoedo, Simone e Ciro, candidatos nanicos da terceira via.
Verá também quais são seus princípios: livre mercado; respeito à propriedade privada; livre iniciativa; primazia do indivíduo e da sociedade sobre o Estado (mínimo, claro). Nada para os trabalhadores. Aliás, tem sim: liberdade contratual para o trabalhador. Ou seja, direito ao trabalho precário e fim dos sindicatos.
Entre suas bandeiras: privatização de empresas públicas; aumento da participação privada em serviços públicos, como educação e saúde; fim das cotas raciais e de gênero; revogação do estatuto do desarmamento. E ainda mantém em destaque dois vídeos: “O Julgamento do Lula”, mesmo após a farsa promovida por Moro e sua Lava Jato ter sido desmascarada, e outro do golpe contra Dilma.
Precisa dizer mais alguma coisa?
(*) Doutor em Desenvolvimento Econômico Sustentável, ex-presidente da Codeplan e do Conselho Federal de Economia