O partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) obteve 20,8% dos votos nas eleições legislativas em fevereiro e foi o 2º mais votado, atrás apenas da UDC. Em artigo anterior, discorri sobre os erros cometidos pelo Partido Social Democrata Alemão (SPD), que possibilitou o crescimento da AFD em suas bases tradicionais, a classe trabalhadora alemã.
Vivemos tempos de franca ofensiva da extrema-direita (EUA, Brasil, Israel, Argentina etc), e é assustador ver a ascensão de um partido herdeiro do Partido Nazista no momento em que estamos prestes a comemorar 80 anos do fim da 2ª Guerra Mundial. Nesta ocasião é fundamental lembrar episódios que impediram que grande parte do planeta caísse nas garras das hordas fascistas.
Um desses momentos marcantes, quase nunca mencionado, foi a Ofensiva do Dnieper-Cárpatos, notadamente sua 2ª fase, desfechada pela União Soviética em 5 de março de 1944, há exatos 81 anos, decisiva para a derrota dos nazistas em território europeu.
Em meados de 1943 o Exército Soviético vinha de dois grandes triunfos contra a Wehrmacht: a Batalha de Moscou (de outubro de 1941 a janeiro de 1942), quando conseguiu repelir a tentativa de conquista da capital soviética pelos alemães, e a Batalha de Stalingrado (de julho de 1942 a fevereiro de 1943), quando conseguiu derrotar a ofensiva alemã em direção ao Volga e aos poços de petróleo no Cáucaso.
Em julho de 1943, a Alemanha nazista desfechou sua última grande ofensiva de verão em território soviético, na épica Batalha de Kursk, conhecida como a maior batalha de tanques da história, quando os soviéticos conseguiram impedir o cerco de suas tropas. Na esteira da vitória, o Exército Vermelho desfechou uma série de ofensivas na segunda metade de 1943, libertando a margem esquerda ucraniana do Dnieper.
Não obstante a URSS ter passado a ter a iniciativa, a resistência alemã ainda era muito forte. O fato é que, na virada de 1943 para 1944, a guerra ainda não estava decidida. Embora Roosevelt e Churchill tivessem assumido com Stalin, na Conferência de Teerã, em dezembro de 1943, o compromisso de os EUA e da Grã-Bretanha abrirem uma nova frente no litoral norte da França, a invasão da Normandia só veio a ocorrer seis meses depois, em junho de 1944.
E o avanço norte-americano e britânico na Itália se dava de forma demasiadamente lenta. As tropas desembarcadas na Sicília em julho de 1943 só alcançaram Roma em junho de 1944. Com reduzida pressão na frente ocidental e no Mediterrâneo, Hitler pôde concentrar cerca de 80% de suas tropas na frente oriental, em território soviético.
Estava armado o cenário para a ocorrência de algumas das batalhas mais sangrentas da 2ª Guerra. De agosto a novembro de 1943, as tropas soviéticas haviam reconquistado Oriel, Kharkov e Kiev. Mas, em algumas situações a Wehrmacht contra-atacou, retomando no final de novembro as cidades de Zhitomir e Korosten.
No início de 1944, a URSS iniciou a 1ª fase da Ofensiva Dnieper-Cárpatos, com o propósito de, a partir das margens do grande rio, avançar cerca de 500 Km e alcançar a cordilheira dos Cárpatos, na fronteira eslovaca e romena. Mas, em função do degelo do final de inverno, a progressão foi lenta, e a resistência alemã foi vigorosa, como na batalha de Korsun, em janeiro/fevereiro de 1944.
Somente a partir de 5 de março, com condições meteorológicas mais favoráveis e com uma extraordinária concentração de tropas, a 2ª fase da ofensiva progrediu como um verdadeiro rolo compressor dos soviéticos sobre os nazistas. Logo foram libertados o grande porto de Odessa, a península da Crimeia e as regiões da Volynia e Podólia, com os soviéticos ultrapassando os rios Bug e Dniester e chegando às fronteiras da Romênia e da Eslováquia, aliadas dos alemães, cujas tropas logo entraram em colapso.
Furioso, Hitler demitiu os marechais Von Manstein e Von Kleist do comando do Exército Sul. Mas a guerra estava decidida. Semanas depois, após 3 anos de bárbaros massacres, todo o território ucraniano estava livre da ocupação alemã e logo (22 de junho), teria início a Operação Bragation, que empurraria as tropas alemães para fora do o território soviético e penetraria na Polônia, rumo a Berlim.
Temendo uma vitória exclusiva dos soviéticos, os EUA e a Grã-Bretanha correram para invadir a Normandia, expulsar os alemães da França, Bélgica e Países Baixos e chegar ao território germânico antes que o Exército Vermelho ocupasse toda a Alemanha.
Stalingrado, Operação Overlord (Dia D), Kursk, Al Alamein, Midway, Iwo Jima foram algumas das batalhas que ganharam as manchetes. Mas os 3 milhões de soldados do Exército Vermelho que lutaram na Ofensiva Dnieper-Cárpatos, dos quais 400 mil foram mortos e 1,1 milhão foi ferido ou mutilado, mereciam um maior reconhecimento da humanidade por terem aplicado o golpe decisivo nas hordas nazistas.