O momento da entrada na universidade representa, para muitos jovens, um marco de vida – depois de anos recebendo orientações claras daquilo que devem estudar, finalmente é possível escolher.
Embora algumas pessoas recebam este sopro de autonomia com foco nos novos ares de liberdade, para várias outras ele é vivenciado com angústia e ansiedade, uma vez que essa liberdade traz consigo, necessariamente, a responsabilidade de assumir as consequências de suas escolhas.
Esse período, ainda que venha com as dificuldades e os conflitos inerentes a tornar-se adulto na sociedade, representa uma oportunidade incrível para amadurecimento e autorreflexão, isto é, para adquirir ainda mais consciência de si.
Quais são suas habilidades, desejos, crenças e perspectivas para o futuro? São respostas complexas, mesmo para quem já as tem na ponta da língua.
Somadas à pressão das expectativas sociais e familiares, à sensação gostar de tudo ou de nada, ao medo de não ser competente e, ao mesmo tempo, ao desejo de ter sucesso e de amar aquilo que faz, elas, por vezes, tornam o processo de escolha um caminho nebuloso e amedrontador.
A Orientação Profissional pode auxiliar na tomada de consciência de si e do contexto para o enfrentamento desses conflitos. Não mais como mera tentativa de ajustar o trabalhador ao trabalho, visando ao aumento de produtividade. Nem tampouco como procura da vocação – o chamado único da vida do indivíduo, que é também o culpado exclusivo pela eventual falha na sua missão social em caso de insucesso profissional.
A busca é, acima de tudo, pelas ferramentas que já existem ou podem ser desenvolvidas para tornar o processo mais fácil. Afinal, quando compreendemos que a entrada na universidade é um momento de escolha, percebemos que ele é complexo e multideterminado.
Além disso, as profissões e os indivíduos são dinâmicos, ou seja, estão sempre em processo de construção. Com consciência de sua família, sociedade, opções e, sobretudo, de si, jovens podem construir com mais autonomia e segurança quem querem ser e finalmente perceber que isso transcende a escolha de um curso superior.
São infinitas as possibilidades de cada sujeito em seu contexto particular. Analisá-las como se houvesse apenas um caminho correto é desconsiderar aquilo que há de mais bonito na existência humana: a capacidade de se inventar ao longo da vida, a partir do ato de assumir para si a responsabilidade de fazer as próprias escolhas.
(*) Psicólogas da Clínica Diálogo