“Nunca vi nem comi, eu só ouço falar”. Assim respondia Zeca Pagodinho na composição “Caviar”, de Barbeirinho, Diniz e Luiz Grande, de 2002. E adiante: “na mesa de poucos, fartura adoidado, mas se olhar pro lado, depara com a fome”.
Em seu estilo irreverente, Zeca retratou o que é a concentração da renda e da riqueza, fenômeno que não é exclusivo do Brasil, pois é marca registrada do sistema capitalista em seu atual estágio de senilidade, mas aqui agravado pelas reformas liberais promovidas por Temer/Bolsonaro.
No artigo anterior, informei que, segundo a Forbes, o País ganhou 42 novos bilionários em 2021, com patrimônio superior a R$ 1 bilhão. Agora são 315 os bilionários brasileiros, com Jorge Lemann no topo, com R$ 100 bilhões. Ao mesmo tempo, cresceu o desemprego, a miséria e a fome.
Na Biologia, chama-se amensalista a relação entre animais ou plantas que prosperam às custas da destruição de outras espécies, sendo parasitismo um termo mais apropriado. E retrata também a relação entre os muito ricos e os pobres e miseráveis, entre a burguesia e a classe trabalhadora.
É resultado da lógica capitalista e de políticas liberais que beneficiam uma minoria e prejudicam milhões. Para além da extração da mais-valia, são muitos os mecanismos de concentração da renda e da riqueza: sistema tributário regressivo; política cambial; política monetária; inflação; investimentos públicos em infraestrutura e C,T&I gerando externalidades positivas para o capital; política de arrocho salarial (apropriação da produtividade do trabalho pelo capital); etc.
Por exemplo, em 2002, com FHC, o salário mínimo era de R$ 200. Como resultado da instituição da política de aumentos reais por Lula/Dilma, passou para R$ 880 em 2016. Ganho real de 76% no período e redução da concentração da renda no Brasil.
Mas, uma das primeiras medidas pós-golpe foi o fim desta política. Desde então, o mínimo sequer acompanha a inflação. Bolsonaro reajustou o SM de 2021 em 5,26% enquanto a inflação dos alimentos (61% dos gastos das famílias com renda de até 2 SM) foi de 18,15%.
Para 2022, Bolsonaro anunciou SM de R$ 1.169. Reajuste de 6,27%, ignorando a alta de 9% do IPCA em 12 meses e o previsto aumento de 5% no PIB, que, com Lula, resultaria em reajuste de 14,5%. R$ 69 de aumento mal dão para comprar o ovo, a farofa e torresmo que o personagem interpretado por Zeca consome em sua casa.
Gado
O falastrão Bolsonaro tuitou que reuniria 2 milhões de apoiadores na Paulista e um milhão em Brasília. Mesmo rolando um “jabá”, não juntou um décimo ou vigésimo do previsto. Afinal, qual o tamanho do seu rebanho?
Pesquisa do Datafolha revelou que os ‘bolsonaristas convictos’ não passam de 12% do eleitorado – cerca de 16 milhões, muito distante dos 57 milhões que o elegeram. Seu estereótipo é de homem branco, meia idade, empresário, ruralista ou autônomo, renda média-alta e morador do Centro-Sul. São pró-ditadura, racistas, misóginos, homofóbicos, falsos patriotas e falsos cristãos. Embora muitos, são franca minoria.
O nó da questão são os outros 41 milhões que em 2018 votaram em Bolsonaro, não por convicção, mas seguindo a pregação antipetista da grande mídia. O que farão em 2022?
Enfim, após o circo bolsonarista, o Brasil volta à realidade de 600 mil mortos pela negligência de Bolsonaro no combate à covid, 20 milhões de desempregados e 40 milhões em situação de extrema pobreza.
Ah! E de 42 novos bilionários.