Aos 16 anos, Beatriz de Siqueira Maciel vive um drama de gente grande. Há dois anos foi diagnosticada com um tumor neuroendócrino, anomalia rara até para pessoas com mais de 40 anos. A constatação do câncer surpreendeu médicos experientes, que repetiram quatro vezes o mesmo exame para ter certeza de que se tratava de um tumor imune à quimioterapia e à radioterapia. Para piorar, o plano de saúde da garota feito pela ServBem foi cancelado, após a operadora Unimed se negar a atender a paciente.
O diagnóstico de Beatriz, então com 14 anos, aconteceu em 31 de dezembro de 2015. Um mês antes, a a menina havia sido submetida a uma cirurgia para retirar o apêndice. Até então, esta era a razão para as dores no corpo, o que foi rechaçado pela biópsia. A partir de janeiro de 2016, a mãe da garota, Fernanda Cristina de Siqueira, começou a busca pelo tratamento, que era desconhecido por pediatras.
O principal exame, o octreoscan, para verificar se o câncer se espalhou pelo organismo (metástase), custa R$ 8.400. “Ao acionar o plano de saúde, que deveria arcar com os custos, o ServBem informou que descontaria o valor do tratamento nas mensalidades. Mas, depois, falou que era para eu pagar para eles reembolsarem após o tratamento”.
A operadora Unimed cancelou o plano de saúde em 31 de janeiro de 2016. Entretanto, a ServBem – hoje Associação de Assistência à Saúde Odontológica dos Servidores Públicos do Brasil (AASPB) – continuou cobrando a mensalidade até agosto de 2016.
Sem amparo do plano privado, Fernanda e Beatriz foram obrigadas a recorrer à rede pública. Conseguiram ser atendidas no Hospital da Criança em maio de 2016. A cada trimestre, a menina é submetida, naquela unidade, a ecografia e a uma cromogranina, custeada pela Abrace em parceria com o Laboratório Sabin, para diminuir os sintomas de vermelhidão no rosto, vômito e diarreia. Esta será a rotina dela nos próximos dez anos.
Guerra judicial – Além de hospitais, a doença da filha obrigou Fernanda a visitar tribunais em busca do direito negado pelo plano de saúde. Apesar de ter vencido na Justiça em diversas instâncias, inclusive com a ausência de representantes da ServBem e da Unimed nas audiências, e com multa estipulada em R$ 500 mil, as empresas se negam a dar o tratamento.
“Estão desconsiderando as decisões e sentenças da Justiça. O que queremos é respeito e atendimento para a paciente, que é uma criança e portadora de uma doença gravíssima. O tribunal já condenou e a ServBem e a Unimed, mas, até agora, não fizeram nada para resolver e minha cliente, estes dias teve uma piora, o que nos levou a procurar todos meios possíveis em busca do respeito a sua vida”, disse o advogado da família, Ricardo Freire Vasconcelos.
Família – Principal atividade de Beatriz, a dança precisou ser deixada de lado. A jovem estuda em um colégio público do Plano Piloto e cursa o 2° ano do Ensino Médio. Mesmo faltando às aulas e perdendo provas, suas notas não diminuíram e as sucessivas idas ao hospital aumentaram sua vontade de cursar medicina. Para alcançar esse objetivo, ela estuda mais de 12 horas por dia.
O tratamento com o octreoscan obrigou Beatriz a ficar longe da caçula, Luciana, por 12 horas, devido à radioatividade. O episódio foi marcante para a família, que se uniu ainda mais com a busca pelo tratamento. “Ela entendeu quando a rotina mudou. E, com sua inocência e inteligência, falou para eu cortar o cabelo dela para doar para crianças que passam pela mesma situação que a irmã”, conta a mãe.
A Central Nacional Unimed, por meio de nota, afirmou estar atenta às decisões judiciais referentes ao caso de Fernanda Cristina de Siqueira Maciel e que todos os esclarecimentos necessários serão dados nos autos. \”A consumidora já foi contatada e afirmou que não necessita de atendimento imediado, também não registrou reclamação ou descontentamento com a operadora\”, diz o texto.