Enquanto os ultraconservadores, especialmente os evangélicos, estavam preocupados em criminalizar as crianças vítimas de estupro que fizessem aborto após 22 semanas de gestação, 82 pastores foram presos no Brasil, nos últimos 6 meses, pela prática de estupro, abuso ou assédio contra crianças, adolescentes e adultos de ambos os sexos. Uma das vítimas contou que o seu algoz praticava a unção da sacanagem na igreja e em um sítio alugado nos arredores de Goiânia (GO).
A informação foi publicada no site: eunanews.com.br às 19h30 do domingo (16), depois de uma exaustiva pesquisa do jornalista Emerson Caetano, redator do site que abrange a região do extremo sul baiano. A matéria foi acessada mais de 375 mil vezes, recorde da história do eunanews.com.br.
O que mais chama a atenção, segundo Caetano, é que enquanto gastavam apenas 36 segundos para aprovar o regime de urgência para o PL do Aborto, como ficou conhecida a iniciativa do bolsonarista Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), com as bençãos do todo poderoso presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), a bancada evangélica (homens e mulheres) não atentou para a falta de decoro com a sociedade ao apoiar a proposta.
O projeto foi rechaçado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) por ser “inconstitucional, inconvencional e ilegal”. Seis conselheiras da OAB declararam total repúdio à ideia, que atribui à vítima pena maior do que a do estuprador.
Repúdio nas redes sociais
No Instagram, frase como: “Se não houvessem estupros não precisaríamos discutir a questão do aborto”, marca a reação nas redes sociais e resumem a indignação dos brasileiros com o esdrúxulo PL do Aborto, que teve o regime de urgência aprovado em 36 segundos na Câmara Federal no início de junho.
Do centro do acalorado debate do PL 1904-24, do deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), eclodiram informações que não podem ser esquecidas. Entre elas, o número de estupros registrados no Brasil em 2022 (74.930), um recorde histórico para este tipo de crime (205 estupros por dia durante a pandemia, uma média de 8,2 mulheres violentadas por hora).
“Não podemos revitimizar mais uma vez meninas e mulheres vítimas de um dos crimes mais cruéis, que é o estupro, impondo ainda mais barreiras ao acesso ao aborto legal, como propõe o PL 1.904/2024”, diz a ministra da Mulher, Cida Gonçalves. “Criança não é para ser mãe, é para ter infância, é para ser criança, estar na escola”, completa. Ela destaca, ainda, que em um ano 14 mil meninas de até 14 anos engravidaram contra sua vontade.
DF teve 190 casos em seis meses
Nos primeiros seis meses de 2024, a Secretaria de Segurança registrou 190 casos de estupro no DF. Recentemente, a Polícia Civil prendeu um empresário que morava no Itapoã, a 20 Km de Brasília, que já havia praticado pelo menos 70 estupros contra crianças e adolescentes que ele aliciava com presentes e dinheiro.
O homem, que não teve a identidade divulgada, chegava a pagar R$ 1 mil para garotas de até 13 anos, virgens. A informação foi repassada ao Conselho Tutelar do Paranoá por uma das meninas, de 16 anos, exploradas há mais de três anos pelo idoso de 61 anos.
Ipea aponta 800 mil estupros no País
Levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta para cerca de 800 mil estupros no País, sendo que só 8,5% dos casos são denunciados nas redes de segurança e saúde.
A pergunta é: por que não temos 75 mil estupradores atrás das grades no Brasil? A resposta: do total de estupradores, apenas 1% está preso e pouco mais de 10% chegam a ser detidos, passam por audiência de custódia e em seguida são liberados para tratamento psicológico, psiquiátrico ou coisa que o valha.
Vulneráveis – O principal tipo de estupro que acontece no Brasil atualmente não é aquele que ocupa o imaginário popular (e que também ocorre), de um homem armado com uma faca ou um revólver correndo atrás de uma mulher.
O mais comum é o estupro praticado por uma pessoa próxima da vítima. E esta, muitas vezes, não tem noção do que está sofrendo e é iludida por estar em tenra idade, por sofrer algum tipo de fragilidade psicológica e financeira, ou por viver um momento de desligamento com o uso de drogas, bebidas e anestésicos.
Saiba+
Depois de diversas manifestações populares nas ruas e nas redes sociais contra o PL do Aborto, Arthur Lira resolveu frear sua tramitação, enquanto o pastor Sóstenes Cavalcanti declarava que o projeto só tinha entrado na pauta para “testar a opinião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e expô-lo publicamente com relação ao aborto”. “Isso é um absurdo e deveria virar um processo contra a ética deste parlamentar”, disse a senadora Soraya Thronicke (Podemos-MT).