Não são raras as ameaças de Jair Bolsonaro à renovação da concessão pública da Rede Globo de Televisão, que vence em 2022. Também é de conhecimento público a preferência do Presidente da República pela Jovem Pan. E isto vai tornar-se ainda mais concreto no dia 17 de outubro, um domingo, quando o grupo paulista inaugurará o seu canal de TV em rede aberta.
Quem pouco acompanha veículos bolsonaristas não consegue mensurar o tamanho do alcance da Jovem Pan. O conglomerado é o maior produtor de conteúdo jornalístico da América Latina no YouTube, possui 250 milhões de visualizações no seu canal na plataforma e 300 milhões de espectadores mensais.
A Jovem Pan é, ainda, a maior rádio do Brasil em número de ouvintes e de afiliadas. São mais de 100 transmissoras próprias e retransmissoras em todo o País. Mesmo antes de inaugurar seu canal aberto, a empresa já fatura R$ 300 milhões por ano.
Toda essa estrutura atua em prol do bolsonarismo, com apoio explícito do Presidente da República e do ministro das Comunicações, Fábio Faria. Desde que assumiu, Bolsonaro já concedeu mais de 20 entrevistas exclusivas para “O Pingo nos Is”, seu programa favorito, que transmite semanalmente suas lives das quintas-feiras.
Pesquisas não detectam realidade na Internet
Os principais institutos de pesquisas indicam cenários favoráveis à vitória de Lula em 2022. O “já ganhou”, no entanto, não é realidade na Internet (que divide a sociedade em bolhas), nas polícias civis e militares e corpos de bombeiros na maioria dos estados e no Distrito Federal, e entre evangélicos e os brasileiros mais ricos.
A despeito dessas pesquisas, e da soberba de alguns caciques políticos, a base eleitoral de Bolsonaro continua funcionando a todo vapor. A máquina de ‘fake news’, que impressionou e surpreendeu os adversários, especialmente os petistas, em 2018, está ainda mais estruturada. Na internet, Bolsonaro segue ganhando força, assim como os canais que lhe declaram apoio explícito, como a Jovem Pan.
“Se tudo der certo, entraremos com uma rede de 45 emissoras abertas mais TVs por assinatura”. Antônio Augusto Amaral de Carvalho Filho (Tutinha), dono do Grupo Jovem Pan.
Na pesquisa espontânea do Datafolha divulgada na terceira semana de setembro, Bolsonaro aparece estabilizado, com 20% das citações. À frente, mas também estável em relação ao levantamento anterior, Lula tem 27%. A soma das demais respostas (em branco + nulo + nenhum + não sabe + outros) chega a 53%.
Nesse cenário, a liderança das pesquisas espontâneas não está nem com Bolsonaro nem com Lula, e sim com os eleitores que não citam, de antemão, nenhum dos dois. O jogo é favorável à polarização, mas, a um ano do pleito, está longe de estar decidido.
Evangélicos, ricos, empresários…
Lula está em desvantagem na parcela evangélica da população. Segundo o Datafolha, a diferença dele para Bolsonaro é de quatro pontos (34% a 38%). Entre brasileiros com renda mensal familiar de 5 a 10 salários, Lula tem 25% e Bolsonaro 42%. Entre quem tem renda superior a 10 salários (23% a 42%), no segmento de empresários (19% a 51%).
Ainda assim, durante a oitiva de Luciano Hang na CPI da Covid, o senador Humberto Costa (PT-PE) respondeu assim quando o empresário dono da Havan disse que pretendia se mudar do Brasil em 2023: “o senhor vai embora do país porque Bolsonaro vai perder”.
Se depender da Jovem Pan…