A ansiedade é grande no governo. A expectativa é de que, até o fim desta semana, a presidente Dilma Rousseff defina o nome do sucessor de Guido Mantega no Ministério da Fazenda. A montagem do xadrez, como ela gosta de dizer, está sendo fechada com um grupo restrito, formado por Lula, Aloizio Mercadante, ministro da Casa Civil, e Jaques Wagner, governador da Bahia. Até ontem à noite, o nome mais forte para chefiar a economia era o do presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, que já teria sido convidado por Dilma. Numa eventual negativa, a segunda opção seria o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini.
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Wagner almoçou ontem com Dilma e, logo depois, retornou à Bahia para participar de um evento promovido pela mulher dele, Fátima. O governador embarcou convicto de que a presidente está disposta a criar um fato positivo na economia para se contrapor às péssimas notícias na política. Além da corrupção sem fim na Petrobras, o Planalto foi derrotado na Comissão Mista de Orçamento na desastrada operação para aprovar o fim da meta de superavit primário neste ano.
Apesar de aparecer na linha de frente no tabuleiro montado por Dilma, Tombini vem afirmando a interlocutores que não quer ir para a Fazenda. \”Meu lugar é no Banco Central\”, diz. Para ele, ainda há muito a fazer no comando da autoridade monetária a fim de levar a inflação ao centro da meta, de 4,5%, até 2016. \”Esse é meu compromisso principal\”, emenda, sempre que questionado sobre a possível escalação dele para o lugar de Mantega. E dispara: \”Inflação baixa é sorte. Inflação alta é incompetência. Temos que trabalhar mais\”.
Tombini só mudará de posição se for convocado pela presidente da República, o que ele não acredita. Em conversas restritas com amigos, o presidente do BC destaca que não deu mandato para ninguém defender seu nome para a Fazenda, nem mesmo para Guido Mantega. Os dois, como se sabe, não são amigos íntimos. Têm uma relação republicana, de colegas de governo. Tombini, por sinal, sempre foi um crítico contumaz dos excessos de gastos promovidos pela Fazenda por meio do Tesouro Nacional, responsável por destruir a credibilidade das finanças públicas ao recorrer a todo tipo de truques contábeis.
A interlocutores, o presidente do BC reconhece que todo o frisson em torno de sua possível nomeação para a Fazenda ganhou força depois de ele ser convocado por Dilma para acompanhá-la à reunião do G20 na Austrália. A presidente precisava de alguém de sua equipe que sinalizasse continuidade, já que Mantega foi demitido quase quatro meses antes de terminar o atual mandato da petista. Era preciso, portanto, dar um sinal adequado aos investidores, já que Tombini goza de muito respeito na comunidade financeira internacional.
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Por enquanto, afirmam interlocutores de Tombini, tudo continua como está no BC, com enorme preocupação diante da resistência da inflação. Apesar de o IPCA-15 de novembro, uma prévia do índice oficial, ter ficado em 0,38%, apontando desaceleração, nada indica que a carestia está caminhando para uma situação confortável. Basta olhar para as projeções de 2015 e 2016, que mostram números muito próximos do teto da meta, de 6,5%. A expectativa é, inclusive, que o Comitê de Política Monetária (Copom) pese um pouco mais a mão sobre os juros na reunião de dezembro. Em vez de aumento de 0,25 ponto percentual, a alta da taxa básica (Selic) seja de 0,50 ponto, saltando dos atuais 11,25% para 11,75% ao ano.
Sobre mudanças na diretoria do BC, Tombini só decidirá depois de ratificado que permanecerá no cargo. É possível, sim, algumas mudanças, se for desejo pessoal dos auxiliares de tocarem novos projetos. Ao ser confrontado sobre o tema, o presidente da autoridade monetária lembra que a atual diretoria é uma das mais longevas da história da instituição. Todos aqueles que começaram o primeiro mandato de Dilma continuam nos postos. A única alteração foi a incorporação, no meio do caminho, de Edson Feltrim para uma nova diretoria, a de Relacionamento Institucional e Cidadania.
Sondagem sobre Meirelles
Quem acompanhou as conversas de Dilma com Tombini na Austrália garante que, discretamente, a presidente o sondou sobre Henrique Meirelles. Os dois trabalharam juntos no Banco Central. Meirelles chefiou Tombini. Dilma quis saber como era o relacionamento do ex-presidente do BC com os comandados.