Cidade construída sobre minas de água dá sinais de falta de estrutura com vazamento de águas
- Advertisement -
Gustavo Goes
Diante de uma crise hídrica instalada no Brasil e no mundo, apenas uma semana depois de se ter comemorado o Dia Internacional da Água, Águas Claras dá sinais de que não está preocupada com o problema. Reflexo da falta de planejamento na cidade, que já foi considerada o maior canteiro de obras da América Latina, o vazamento de água escoada nas ruas vinda dos prédios é um problema constante.
Desde fevereiro, uma tubulação jorra água na Rua 36 Norte, ao lado do Shopping Quê!. A denúncia do vazamento foi feita por meio de um vídeo gravado pelos próprios moradores, em frente a um dos maiores empreendimentos imobiliários da cidade, o condomínio Top Life Club&Residence, que ocupa um quarteirão inteiro, tem 36.000 m², seis prédios, 1.060 apartamentos, mais de 20 áreas comuns, entre elas três piscinas.
A Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) informou que suas equipes já estiveram no local e atestaram que a água não é proveniente de sua rede, mas, sim, do subsolo de um dos prédios das imediações. “Esses vazamentos são comuns em Águas Claras. A cidade nasceu sobre minas de água. Portanto, não é surpresa que o crescimento com pouco planejamento resulte nesse tipo de problema”, esclareceu o assessor de Comunicação Social da estatal, José Carlos Barroso.
Entretanto, o problema não é exclusivo da Rua 36 Norte. Ele se repete no Parque Sul, área repleta de mangueirais, na Avenida Jacarandá. No edifício Angra dos Reis, construído há dois anos e ainda desabitado, foi constatado o problema do escoamento de água para fora do prédio. Mais que isso, foi localizado um grande poço na garagem.
Além do prédio, o problema do escoamento de água para o Park Sul foi denunciado por moradores, que tinham como principal preocupação a possível proliferação do mosquito da dengue. “Há seis meses esse lago que havia sido formado desapareceu, porém estamos alertas e entraremos em contato com autoridades se ele voltar. É um problema muito maior que apenas a poluição do local, e sim, de saúde pública”, disse a moradora Elizete Pacheco.
Falta de Planejamento
- Advertisement -
Com apenas 12 anos de existência, como região administrativa, Águas Claras dá sinais da falta de infraestrutura. Projeções foram licitadas pela Terracap para a construção de prédios sem que houvesse a preocupação de como isto seria feito, por exemplo, sobre minas de água. Como essas questões não foram avaliadas previamente, não existe previsão de punições para quem descumpra normas ambientais.
“Os construtores tiveram que arrumar um jeito de escoar essa água, seja criando poços para armazená-la, aterrando as nascentes e minas ou escoando para fora dos residenciais”, disse a diretora de Sustentabilidade da Associação dos Moradores e Amigos de Águas Claras, Shirley Araújo.
Segundo técnicos da área, Águas Claras faz parte da Bacia Hidrográfica do Lago Paranoá e possui lençóis freáticos profundos. Entretanto, com o período de chuvas, há um afloramento dessas águas. “Tendo em vista que a situação é recorrente em diferentes pontos, será encaminhado ofício à Novacap para que realize obras dando a destinação técnica correta para o afloramento da água, além de encaminhamento e à Defesa Civil para avaliação de possíveis riscos estruturais”, explicou o Instituto Brasília Ambiental (Ibram).
Enquanto nenhuma providência é tomada pelas autoridades para controlar o crescimento da cidade, a “Dubai Brasileira” segue dando sinais de que mais prédios e menos soluções ambientais vão saturá-la cada vez mais, destruindo o sonho de quem escolheu a cidade para morar por acreditar na promessa de que ali seria edificada uma urbi planejada para assegurar alta qualidade de vida para famílias de classe média.