Muito se tem falado e ouvido ultimamente sobre terceira via, que seria uma candidatura competitiva, alternativa às de Lula e Bolsonaro. O termo tem origem na economia política, quando se buscou associar o liberalismo econômico à proteção social, o chamado social-liberalismo. Seu mais conhecido expoente foi o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair, do Partido Trabalhista.
Mas, aqui no Brasil tem se aplicado mais ao cenário político-eleitoral. A burguesia brasileira nunca endossou as candidaturas do PT e sabe que mais quatro anos com Bolsonaro só agravará a crise econômica, social e político-institucional do país, com sérios prejuízos para seus negócios. Por isso procura desesperadamente por uma “terceira via”. E tem abusado nessa procura.
O saudoso e genial poetinha Vinícius de Morais, em sua famosa canção “Regra Três”, recorreu à terceira regra do jogo de futebol, que trata das substituições de jogadores, para fazer uma humorada crítica ao parceiro Toquinho, notório namorador, que, sempre em busca de novas aventuras, teria abusado da tolerância e do perdão de sua amada.
Terceira via
Pois a terceira via burguesa também abusa das substituições. Por ela já passaram Tasso Jereissati, Datena, Luciano Huck e hoje agrupa um enorme número de pré-candidatos, casos de Dória e Leite (PSDB), Moro (Podemos), Pacheco (PSD), Mandetta (DEM/PSL), Felipe d’Ávila (Novo), Simone Tebet (MDB) e Vieira (Cidadania).
Quem são os candidatos à terceira via
Até Ciro Gomes (PDT) se apresenta como tal. Mas a todos falta algo crucial: votos. Sim, todos oscilam entre 1% e 8% das intenções de voto, alguns com traço nas pesquisas. O curioso é que todos pediram voto para Bolsonaro em 2018, exceto Ciro e Simone, que lavaram as mãos no 2º turno.
O fato é que a classe dominante brasileira – desde banqueiros e industriais a latifundiários, barões da mídia e a cúpula militar – não consegue engolir o protagonismo de Lula na política nacional. Vamos para a nona eleição desde o fim da ditadura militar e Lula foi protagonista em todas.
Collor
Em 1989, perdeu no 2º turno para Collor, em função da farsa montada pela PF, vestindo camisetas do PT nos sequestradores do empresário Abílio Diniz; perdeu para FHC em 1994 e 1998, liquidado, respectivamente, pelos “estelionatos eleitorais” do Plano Real e da postergação da Âncora Cambial.
E ganhou com folga em 2002 e 2006; elegendo Dilma sua sucessora em 2010, refutando uma mudança na Constituição para concorrer a um terceiro mandato. Reelegeu Dilma em 2014, que recusou a candidatura de Lula, que ganharia em 2018, pois liderava todas as pesquisas, mas foi impedido pelo TSE, que acatou a Farsa Jato, barrou sua candidatura e “presenteou” o Brasil com o desgoverno Bolsonaro.
Antipetismo
A grande mídia diz que há espaço para a terceira via em vista do antipetismo que há na sociedade. Mas, como falar de antipetismo se o candidato do PT hoje lidera com folga todas as pesquisas e chega a 60% das intenções de voto entre os que ganham até dois salários mínimos; que se não fossem as armações de Moro/Dallagnol, venceria em 2018, provavelmente no 1º turno; que encerrou seu mandato em 2010 com 85% de aprovação popular.
Antipetismo há entre os banqueiros, mas não entre os bancários; há entre os industriais, não entre os operários; há entre os latifundiários, não entre os camponeses; há na cúpula militar, não na tropa; há nos farsantes chefes evangélicos, não entre os fiéis. Em suma, noves fora, à terceira via sobram pretendentes, mas faltam votos.
(*) Doutor em Desenvolvimento Econômico Sustentável, ex-presidente da Codeplan e do Conselho Federal de Economia
** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasília Capital