Wílon Wander Lopes (*)
- Advertisement -
Fatos que podem parecer absurdos para estrangeiros ganharam as manchetes nestes tempos de Copa. A repercussão de tais fatos surpreende também os brasileiros, talvez pela abordagem, quiçá pelo ineditismo: o roubo do leão, a latrina jogada na cabeça do torcedor, a flechada do índio manifestante contra o PM montado a cavalo. Também tem o caso da carona solidária dos estudantes que lhes rendeu uma multa de mais de cinco mil reais.
Vamos esclarecer os fatos citados. Em Monte Azul Paulista, a 400 Km de São Paulo, ladrões arrombaram o portão e furtaram um leão de 300 Kg, que come 5 Kg de carne por dia e que consome R$ 5 mil por mês em sua manutenção. Em Recife (PE), num jogo entre Santa Cruz e Paraná, pela série B do Campeonato Brasileiro, um torcedor jogou, da arquibancada, uma latrina na cabeça de outro torcedor, matando-o.
Numa cena de faroeste, um grupo de índios que vinha de manifestação pela demarcação de terras, se uniu, na rodoviária de Brasília, a outros manifestantes contra a realização da Copa, e entrou em choque com a PM, próximo ao estádio Mané Garrincha, onde a Coca-Cola exibia a taça oficial da Copa. Um soldado, a cavalo, foi atingido por uma flecha…
Finalmente, um grupo de estudantes, que viajou a Goiânia dividindo a despesa de gasolina, teve o carro parado por uma patrulha, que lhes aplicou uma multa de mais de R$ 5 mil porque, no entender dos policiais, estariam praticando a proibida lotação.
Haja Champollion para decifrar este Brasil que estamos vivendo. E que bom que os índios e manifestantes de outras cores foram em direção ao Mané Garrincha. Do outro lado está a abusada Esplanada dos Ministérios, onde o GDF pretende construir um estacionamento e um complexo de serviços, um verdadeiro shopping subterrâneo. É que a rodoviária, onde milhares de pessoas sofrem todos os dias o drama do transporte público, fica muito perto da Praça dos Três Poderes.
Para finalizar, transferiram a tal Fan Fest da Fifa da Esplanada dos Ministérios, para o Taguaparque, em Taguatinga. É que os governantes ficaram temerosos – e com razão. Uma festa dessas, organizada pela Rede Globo para a Fifa – as duas instituições mais criticadas nas manifestações –, é mesmo um perigo…
(*) Advogado, escritor e jornalista. É diretor do Jornal Satélite.