Durante um
almoço no Palácio do Eliseu, sede do governo francês, em 23 de novembro de
2010, pode ter sido decidida a escolha do Catar como sede da Copa do Mundo de
2022. Estavam presentes o presidente da França, Nicolas Sarkozy; o então
presidente da UEFA, Michel Platini; o Emir do Catar, Tamim Ben Hamad Al Thani;
e o então primeiro-ministro do Emirado, Sheikh Hamad Bem Jassem.
Nos
primeiros meses de 2016, no afã de condenar o ex-presidente Luís Inácio Lula da
Silva, o então juiz da 13ª Vara Criminal de Curitiba, Sérgio Moro – conforme
revelou o site The Intercept Brasil – trocava mensagens pelo aplicativo
Telegram com o coordenador da força-tarefa da Lava-Jato, o procurador Deltan
Dallagnol.
Na manhã de terça-feira (18), Platini
mais uma vez foi preso numa pequena cidade do interior da França para dar
explicações sobre aquele aparente despretensioso almoço, cujas investigações apontam
para um suspeito acordo que transformou em Catar em sede do próximo Mundial.
Nesta quarta-feira (19), Moro deve enfrentar um de seus piores dias desde que desembarcou
em Brasília como superministro da Justiça e Segurança Pública. Ele irá ao
Senado para uma audiência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), onde
tentará explicar a troca de mensagens com a força-tarefa da Lava Jato. Seus
diálogos com o procurador Deltan Dallagnol, revelados pelo The Intercept,
mostram que o então juiz orientava a força-tarefa a ouvir testemunha e adotar
procedimentos para facilitar a condenação de Lula.
A sorte de Moro, talvez, seja o
fato de não estar na França. Afinal, sua atitude em tudo guarda semelhança com
o que fez Platini – combinar o resultado de um julgamento. Embora 23 dos 54
parlamentares que a integram a CCJ antecipem que baterão duro no ministro, a
quem acusam de prática de conluio com Dallagnol, o destino dele será decidido
por uma turma de ministro do Supremo, na próxima semana. E, a menos que ocorra
uma surpresa, o corporativismo do Judiciário tende a falar mais alto,
contrariando a compreensão do próprio Moro.
Em 2016, ao liberar áudios de
conversas entre Lula e a ex-presidente Dilma Rousseff ele justificou: “o
problema não é a captação do diálogo e sua divulgação, o problema é o diálogo
em si e seu conteúdo, que é uma ação visando burlar a Justiça”. Então, no
presente caso, deveria valer o que está escrito: não importa os meios pelos
quais a troca de informações entre acusação e julgador vieram à tona.
Considere-se o seu conteúdo.