A partir do século XVI, com a emergência do mercantilismo, algumas nações europeias – inicialmente Espanha e Portugal, posteriormente, Países Baixos, Inglaterra e França – se dedicaram a colonizar boa parte do planeta, começando pelas Américas, e depois pontos estratégicos da África e da Ásia, regiões habitadas e em distintos estágios de desenvolvimento. E as atrocidades cometidas pelos europeus contra esses povos (genocídio, escravização, conversão religiosa) estão entre as maiores barbaridades realizadas pela humanidade, em nome da civilização e de Deus.
Na 2ª metade do século XVIII, com a Revolução Industrial – que implicava na busca por matérias-primas e mercados para suas manufaturas – Inglaterra, França e Países Baixos começaram a constituir seus impérios. Se as Américas do Sul e Central já estavam divididas entre Espanha e Portugal, a América do Norte foi campo de disputa entre Inglaterra e França. A África teve o litoral ocupado por entrepostos das potências europeias, mas a conquista do interior africano só ocorreu na 2ª metade do século XIX.
Mas o desejo maior era a conquista da Ásia, onde as riquezas produzidas alimentavam a cobiça dos europeus. Mediante a constituição de companhias mercantis, as potências europeias recorreram à pirataria, à intriga e à guerra para conquistar posições no continente. As “cerejas do bolo” eram as duas civilizações milenares mais populosas e ricas do planeta: a Índia, do Império Mogol, e a China, da Dinastia Qing.
Em 1750 o Império da China ocupava 13 milhões Km² e tinha 230 milhões de habitantes. O Mogol possuía 4 milhões Km² com 200 milhões de habitantes. Juntas eram 54% da população e quase metade da economia mundial. E eram cobiçadas por duas nações substantivamente menores: a Grã-Bretanha, com 300 mil Km² e 8 milhões de habitantes, e a França, com 550 mil Km² e 25 milhões de habitantes. Estudo do FMI estimou que as economias chinesa e indiana eram 15 vezes maiores que a britânica na 1ª metade do século XVIII.
Em meados desse século, França e Grã-Bretanha disputavam a hegemonia europeia, e o desfecho da Guerra dos Sete Anos (1756/63) selou a predominância britânica, que privou os franceses da maior parte de suas possessões na América do Norte e na Índia. O avanço britânico se deu inicialmente sobre o Império Mogol, aproveitando o fato dele vir sendo minado pelo Império Maratha (sul da península indiana) e pelas incursões persas e afegãs.
Após conquistarem em 1765 as regiões de Bengala, Bihar e Orissa, os britânicos expandiam seus domínios, ao tempo que destruíam a economia indiana. Em 1849 conquistaram o Punjab e em 1857 debelaram a Revolta dos Cipaios, consolidando seu domínio sobre a península indiana. Nesses 100 anos, 50 milhões de indianos morreram pela guerra e repressão britânicas, e em função da fome e de doenças.
Antes de consolidar seu domínio sobre a Índia, os britânicos lançaram-se sobre a China. Eles tinham um enorme déficit comercial com os chineses e, ampliando a produção de ópio na Índia (ocupando áreas antes destinadas à produção de alimentos), começaram a exportá-lo para a China. As exportações cresceram 40 vezes de 1767 a 1836, tornando-se um problema de saúde pública no país, levando à proibição de seu comércio pelo imperador. Foi o pretexto para os britânicos desfecharem a 1ª Guerra do Ópio (1839/42), e com o apoio de outros sete países europeus, dos EUA e do Japão, impuseram à China os chamados “Tratados Desiguais”, forçando-a ceder 39 concessões em 20 cidades litorâneas.
A seguir, aconteceram a Revolta Taiping (1850/64), com 20 milhões de mortos; nova derrota na 2ª Guerra do Ópio (1856/60); derrota na Guerra Russo-Chinesa (1894/95) e na Guerra dos Boxers (1899/1901). No século XX veio a queda da Dinastia Qing, a guerra civil e a invasão e ocupação japonesa de 1937 a 1945. O resultado foi a perda de ¼ do território (3,3 milhões Km²), a morte de dezenas de milhões de chineses e sua rica economia destruída, no que os chineses denominaram “século da humilhação”.
China e Índia foram devastadas, chineses e indianos foram tratados como cidadãos de 2ª classe. Apenas em 1947, liderada por Mahatma Gandhi, a Índia se tornou independente da Grã-Bretanha. A China recobrou sua soberania em 1949, com a revolução socialista liderada por Mao Tse Tung.
Passados ¾ de século, a China se tornou a 2ª maior economia do planeta, e a Índia, a 5ª. Em artigo anterior discorri sobre o crescimento econômico da China e da Índia nas últimas 4 décadas. Por volta de 2047/49, quando as duas nações completarão um século de efetiva independência, tornar-se-ão as maiores economias do planeta, suplantando os EUA. E as demais decadentes potências ocidentais serão superadas por outros países periféricos por elas colonizados e oprimidos: Indonésia, Paquistão, Vietnã, Irã, Turquia, Egito, Nigéria, México e Brasil, tendo o BRICS como espaço de articulação de seus interesses. Questão de tempo.