Em 7 de abril de 2011 o Brasil amanheceu perplexo com a notícia do massacre de Realengo, quando um ex-aluno invadiu uma escola pública do bairro carioca, matou 12 adolescentes e feriu outros 22. Muita perplexidade. Afinal, era comum vermos esses ataques insanos nos EUA, não por aqui. Antes, havia registro de apenas duas ocorrências de pequena dimensão.
Foi a partir de 2016, no bojo da trama golpista contra Dilma, quando a classe dominante e a grande mídia deferiram uma campanha de criminalização e ódio contra o PT, Lula e os movimentos sociais, que a violência insana escalou no Brasil, tomando inclusive o rumo das salas de aula. De lá para cá foram 12 ataques armados às escolas (9 após a posse de Bolsonaro), com quase 40 mortes de crianças, adolescentes e professores, culminando no covarde assassinato de 4 crianças na creche em Blumenau.
Tais ataques foram praticados por alunos ou ex-alunos ressentidos, fanáticos religiosos, jovens atrás de 10 minutos de fama e aderentes do neonazismo, insuflados pelo discurso de ódio, de intolerância, de se fazer justiça com as próprias mãos promovido pelo ex-presidente genocida.
O discurso de ódio é machista, misógino, homofóbico, racista. Prega a supremacia da “raça branca” e a intolerância religiosa. E é aporófobo (alega que pobre atrapalha, visto que demanda mais Estado e, consequentemente, mais impostos).
Não surpreende que atos extremistas ocorram notadamente na região Sul, especialmente em Santa Catarina, onde a ideologia reacionária ganhou corações e mentes. Não por acaso o estado deu 76% de seus votos a Bolsonaro em 2018 e 70% em 2022.
Pesquisa da recém-falecida antropóloga Adriana Dias, da Unicamp, apurou que o número de células neonazistas no Brasil saltou meteoricamente de 143 em janeiro de 2019 para 530 em maio de 2021, e 1.117 em novembro de 2022. Impressiona que o Sul, que possui 14% da população do País, concentre 55% dessas células, sendo que 21% em Santa Catarina, cuja população corresponde a apenas 3,4% do total nacional.
Também não por acaso, foi na cidade catarinense de São Miguel do Oeste que, num comício bolsonarista, em outubro, milhares de apoiadores cantaram o hino nacional fazendo a típica saudação hitlerista, cena que fez lembrar um comício nazista em sua cidade símbolo, Nuremberg.
E pior: a vereadora Maria Capra, do PT, única de esquerda na Câmara Municipal, que denunciou o ato, foi cassada pelos outros 10 vereadores por quebra de decoro. Em vários municípios sulistas proliferaram as “listas negras” com nomes de comerciantes e profissionais que apoiavam Lula. E colaram-se estrelas do PT na porta desses estabelecimentos. Isto lembra o quê mesmo?
Este pensamento reacionário espraiou-se, no curso do fluxo migratório sulista, para os estados da fronteira oeste onde predomina o “ogronegócio” (Mato Grosso do Sul, Goiás, Mato Grosso, Rondônia, Acre e Roraima). Nos três estados do Sul, somados a esses outros seis, Bolsonaro obteve 19,1 milhões de votos (63,2%) e Lula 11,1 milhões (36,8%), uma vantagem de 8 milhões.
Como o discurso de ódio é também xenófobo, diante da apertada vitória de Lula por 2,1 milhões de votos, proliferaram ataques aos nordestinos, de que Lula só venceu pelo apoio maciço destes, e muitos pregaram o separatismo da região. Visto de outro ângulo, sem esses nove estados, Lula venceria por mais de 10 milhões de votos.
Em 2018, Blumenau deu impressionantes 84% dos votos a Bolsonaro, talvez satisfazendo a ânsia da maioria de seus “cidadãos de bem” de se livrarem do PT. Mas parece que os quatro anos de desgoverno, incentivo ao armamento, apologia da violência, do preconceito e discurso de ódio foram música para os ouvidos da maioria dos blumenauenses, pois em 2022 deram mais de 75% dos seus votos ao ex-presidente.
Será que só agora, na hora da dor maior, as mães de Blumenau, que choram por seus filhos amados, enxergarão a relação entre a pregação do ódio e os ataques insanos que se repetem?