O número de infectados pelo novo coronavírus no mundo superou 130 milhões e o de mortos se aproxima dos 3 milhões. No Brasil, o total de contaminados passou de 13 milhões e já são 333 mil mortos. Se mantido o lento processo de vacinação, o número de mortes pode chegar a 500 mil em junho e alcançar calamitosos 800 mil em dezembro.
Quando a pandemia chegou e rapidamente se espalhou pelo Brasil, a região inicialmente mais atingida foi o Nordeste. Temia-se um avanço descontrolado. Afinal, era e é a região mais vulnerável, com a maior proporção da população abaixo da linha de pobreza (45% contra 15% no Centro-Sul); a maior proporção da população sem acesso regular a água potável (30% contra 5% no Centro-Sul), e maior número de pessoas por leito de UTI (6.680 contra 3.750 no Centro-Sul).
Mas, conscientes da vulnerabilidade da Região e percebendo que seria catastrófico o combate à pandemia pelo governo federal, os governadores dos estados do Nordeste se organizaram para uma ação conjunta, criaram o Consórcio Nordeste, instituíram uma coordenação científica e adotaram orientações e procedimentos comuns, como a suspensão das atividades econômicas em momentos críticos, e, diante da inércia bolsonarista, firmaram a compra de vacinas.
O resultado salta aos olhos. Embora tendo os piores indicadores sociais e sanitários, o Nordeste, com quase 30% da população brasileira, registra apenas 21% das mortes do país pelo coronavírus (71.040 em 332.750).
Atualmente, segundo a Johns Hopkins University, o Brasil é o 18º país do mundo em óbitos/milhão de habitantes pelo coronavírus (1.583). Mas, se fosse um país, o Nordeste, com 1.245, seria o 31º.
Já o Brasil, excluído o Nordeste, teria 1.712 mortos/milhão e passaria a 14º. Os três estados com menor número relativo de óbitos são Maranhão, Bahia e Alagoas. Dos oito estados com melhor desempenho, seis são do Nordeste. Já dos quinze com piores desempenhos, nenhum é da Região Nordeste.
Em 2018, nenhum dos nove governadores eleitos no Nordeste apoiou Bolsonaro. Todos chamaram voto em Haddad. Em contraste, estados governados por bolsonaristas, com indicadores sociais semelhantes aos do Nordeste, como os da Amazônia ocidental (Amazonas, Rondônia, Roraima e Acre), são os que apresentam os piores índices (média de 2.614 óbitos/milhão de habitantes).
Se o Nordeste tivesse a mesma proporção de óbitos, seriam hoje 149.150 mortos na Região, 78.110 a mais que os 71.040. Ou seja, a ação conjunta do Consórcio Nordeste potencialmente salvou 78.110 vidas.
O Nordeste já deu ao Brasil Luís Gonzaga, Jorge Amado, Castro Alves, Celso Furtado, Rui Barbosa, Paulo Freire, Joaquim Nabuco, Zumbi, Dandara, Caymi, Lula, Glauber Rocha, Dom Helder, entre tantos outros. Contudo, historicamente sempre foi visto pelo “Sul Maravilha” como a região atrasada, empobrecida, triste e sofrida.
Nos últimos anos, muito mudou, mas não a ponto de colocá-la em igualdade com o Centro-Sul do País em termos de desenvolvimento econômico e social. Porém, em termos de discernimento político, sem dúvida está hoje na vanguarda do Brasil, pois é no Nordeste que o presidente-genocida, com 75% de reprovação de seu governo, tem o maior percentual de rejeição.
Que o sol radiante do Nordeste ilumine o restante do Brasil!
(*) Doutor em Desenvolvimento Econômico Sustentável, ex-presidente da Codeplan e do Conselho Federal de Economia