É muito comum depararmos com notícias de pessoas envolvidas com tráfico de drogas, roubos, furtos e outros tipos de crimes. Assuntos que ora escandalizam ou acabam sendo banalizados por ser uma constante em nosso meio. E se, ao invés disso, encontrássemos notícias de pessoas que, mesmo em contexto vulnerável e adverso, são capazes de repensar uma outra realidade para suas vidas?
É sabido que as transformações relacionadas principalmente às questões de trabalho, além de criar novas formas de exclusão de pessoas e espaços, aprofundaram ainda mais as existentes. O descompasso da desigualdade social no Brasil é um dos fatores agravantes para incidência de criminalidade. Muitos jovens são atraídos para a prática de trabalhos ilícitos, com promessa de fáceis ganhos financeiros.
A inserção no tráfico de drogas, por exemplo, apresenta-se algumas vezes como uma estratégia de sobrevivência, o que não tira a responsabilidade do próprio sujeito pelas suas escolhas e as consequências. Mas até que ponto estar em contexto vulnerável é propensão a entrada para o mundo do crime?
Os fatores de risco existem, sendo eventos de vida que, quando presentes, aumentam a probabilidade de o indivíduo apresentar problemas físicos e psicossociais. Mas há, também, os fatores de proteção: se referem às influências que modificam, melhoram ou alternam respostas pessoais a determinados riscos de desadaptação.
Os elementos de proteção assumem papel facilitador no caminho da construção da resiliência. Esses podem ser identificados através de características individuais que favoreçam o enfrentamento do problema, como autoimagem positiva e a capacidade de criar e desenvolver estratégias ativas. Também as relações familiares, que se destacam pelo suporte, segurança, bom relacionamento e harmonia com os pais e abertura para diálogo no ambiente de relações primárias. Há, ainda, os relacionamentos extrafamiliares ou ambientais, que se referem ao suporte de pessoas significativas e experiências escolares positivas, e que exercem um fator de proteção muito importante na construção de resiliência.
No entanto, para efetivar os fatores de proteção é preciso promover discussões e estratégias que valorizem as condições de diálogo no espaço que estão inseridos, visando que o jovem aprenda a tecer novos olhares e perspectivas sobe sua própria realidade. A resiliência não é algo intrínseco do sujeito, ou seja, não se nasce com ela, mas pode ser cultivada ao longo de sua existência.
Suellen Cristina Rodrigues
Psicóloga – Clínica Diálogo
CRP 01/20015