O primeiro-ministro da Espanha, Mariano Rajoy, disse nesta segunda-feira que o rei Juan Carlos lhe anunciou que irá abdicar ao trono, e que fará um comunicado à nação nas próximas horas. De acordo com o jornal El País, Rajoy afirmou que o próprio rei irá explicar as razões de sua abdicação.
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\”Quero transmitir que este processo acontecerá em um contexto de estabilidade institucional e como prova da maturidade de nossa democracia\”, afirmou o premiê.
Juan Carlos, 76 anos, está à frente do trono espanhol desde 1975, período em que a democracia voltou ao país, após anos da ditadura franquista. Seu filho Felipe de Borbón, 46 anos, o príncipe de Astúrias, irá assumir o trono.
Os últimos anos de seu reinado foram marcados pelos problemas de saúde e pelos escândalos, especialmente a investigação por suposta corrupção de seu genro Iñaki Urdangarin, que afetou a filha mais nova do rei, a infanta Cristina.
\”Vi o rei convencido de que este é o melhor momento para que possa acontecer, com toda normalidade, a mudança na chefia de Estado e a transmissão da coroa ao príncipe Felipe\” afirmou Rajoy em uma declaração institucional excepcional, convocada em caráter de urgência.
Foto: Casa de S.M. el Rey / Divulgação
Rajoy prestou homenagem ao rei ao afirmar que \”renuncia ao trono uma figura histórica tão estreitamente vinculada à democracia espanhola que não é possível entender uma sem a outra\”.
Ao mesmo tempo, o primeiro-ministro espanhol convocou um conselho de ministros extraordinário para terça-feira e recordou que o processo de abdicação exigirá a aprovação de uma lei orgânica.
\”Espero que em um prazo muito curto as Cortes espanholas possam proceder a nomeação como rei do príncipe Felipe\”, disse.
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O herdeiro do trono, ao lado da futura rainha, a princesa Letizia, ocupa há vários anos um espaço cada vez mais preponderante na monarquia espanhola e até agora conseguiu manter sua popularidade.
O impulso à democracia e os escândalos
O rei Juan Carlos \”foi o maior impulsionador de nossa democracia\”, disse Rajoy. É \”o melhor símbolo de nossa convivência em paz e em liberdade\”, destacou, no momento em que a Espanha enfrenta o importante desafio do desejo de independência da Catalunha, a grande região do nordeste do país.
Em 23 de fevereiro de 1981, um jovem monarca de uniforme militar ordenou, em um discurso histórico exibido na televisão, aos oficiais golpistas da Guarda Civil que ocupavam o Congresso que retornassem para seus quartéis.
Ao impedir a tentativa de golpe de Estado liderada pelo tenente-coronel Antonio Tejero, o rei, que Franco havia designado já em 1969 como seu sucessor, confirmou neste dia seu nome como o herói da transição democrática.
Juan Carlos acompanhou em seguida o destino de uma Espanha que havia saído da ditadura para unir-se às grandes monarquias europeias.
Durante anos, o caráter afável e os hábitos simples do chefe de Estado considerado próximo ao povo, que tinha uma vida privada discreta, apaixonado por esportes, especialmente vela e esqui, renderam o afeto dos espanhóis.
Mas esta grande figura da democracia viu sua popularidade afundar em consequência dos escândalos nos últimos anos.
Primeiro, a investigação judicial que inclui sua filha Cristina, de 48 anos, indiciada por suposta fraude fiscal e lavagem de dinheiro no \’caso Noos\’ que afeta desde 2011 o marido da infanta, Iñaki Urdangarin, suspeito de corrupção.
Depois a luxuosa viagem para caçar elefantes em 2012 em Botsuana, que teria permanecido secreta se o rei não tivesse sido repatriado em caráter de urgência após uma queda, provocou um choque em um país em crise econômica.