Há muito tempo, ligado num jogo do Barcelona, vi uma cena que deveria ser, digamos, inadequada: um torcedor adversário jogou uma banana na área do córner para atingir Daniel Alves. Dani, como era chamado, ia cobrar um escanteio ao ser atingido. Com calma, ele pegou a banana, livrou-se da casca e comeu a fruta.
Pensei nas implicações do gesto. E então – antes mesmo de perguntar a minhas amigas e amigos que trabalham com essas coisas da mente –, associei o gesto a uma teoria de mesa de boteco: por que diabos brancos e quase brancos sempre relacionam a banana com o macaco, e estes à origem dos pretos e quase pretos? Brancos vieram de onde, então, já que de ursos polares é que não foi?
Por esses dias aconteceu algo pior: o presidente da Conmebol, que é a federação que cuida da civilidade no futebol (na verdade não cuida, mas foi criada para isso), declarou publicamente, e em bom portunhol, sobre a ameaça dos clubes brasileiros abandonarem a Libertadores: Tarzan sem Chita (a macaquinha que acompanhava o herói) não existe.
Os sisudos dirigentes brasileiros, que deveriam tomar uma atitude qualquer, ficaram calados, com o rabo entre as pernas (sem chimpanzés, por favor).
Coincidentemente, os relatos de racismo – e há outros, muitos outros, como o de Vinicius Jr. – foram protagonizados por homens. Aqui, é bom ressaltar: o único clube que se manifestou contra a brutalidade travestida de brincadeira, sugerindo a saída dos clubes da Libertadores, foi o Palmeiras, que é, também, nem tão coincidentemente, o único clube brasileiro presidido por uma mulher.