Termina nesta sexta-feira (15) os longos 17 meses de racionamento de água no Distrito Federal. Segundo o governo, a revogação da medida de economia só foi possível graças ao esforço da população e às obras inauguradas ou em fase de conclusão. Ainda que tenha sido anunciado a menos de cinco meses da eleição, o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) descarta se tratar de medida eleitoreira.
A conta de água também não será reajustada, como previa a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb). A decisão, também “desinteressada” em relação ao humor do eleitor, é da Câmara Legislativa, embora a medida tenha sido autorizada pela Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento do DF (Adasa).
O presidente da Adasa, Paulo Salles, creditou o aumento nos índices dos reservatórios às melhorias na captação e às chuvas de 2018. O nível do Descoberto, que abastece 65% do DF, passou dos 90%. Quando o racionamento começou, em 16 de janeiro do ano passado, o reservatório operava com 19,1%.
“Fizemos várias simulações e chegamos à conclusão de que a suspensão do rodízio de abastecimento era o que fazia o equilíbrio da segurança hídrica com a minimização dos problemas do racionamento para a população”, afirmou o presidente da Agência.
A Adasa, por outro lado, autorizou a Caesb a reduzir a pressão na rede de distribuição. A medida não deixa nenhum brasiliense sem água, mas pode, dependendo da localização do imóvel, comprometer a chegada do produto às torneiras. Mas, com isso, busca-se manter o abastecimento diário regular dos consumidores, reduzindo a captação nos reservatórios.
Conta – A Adasa também autorizou a Caesb a reajustar em 2,99% a conta de água. Mas o aumento foi revogado pela Câmara Legislativa na terça-feira (12). O objetivo era compensar as perdas da companhia, já que a venda de água esteve em baixa durante a crise hídrica. A perspectiva inicial da Caesb era aplicar o índice nas contas no início deste mês, em duas etapas — 2,06% para compensar perdas com o racionamento e 0,93% para perdas com inflação.
Reeducação: o grande legado
O governador Rodrigo Rollemberg, que anunciou o fim racionamento antes de um posicionamento oficial da Adasa, comemorou a reeducação do brasilienses quanto ao uso da água. Para ele, este foi o “grande legado” do rodízio. A redução do consumo de água pela população foi, em média, superior a 12%.
Nas contas do governo, este ano o menor índice do Descoberto deve ser atingido em novembro, chegando a 22%. Nesse período, no entanto, a chuva já deve ter retornado. E, em dezembro, o sistema Corumbá entra em operação, com 2,8 mil litros por segundo a mais de água para o DF.
O abastecimento ainda terá o auxílio de 550 litros de água que são captados a cada segundo no Ribeirão Bananal, no Lago Paranoá e no Sistema Santa Maria-Torto, usados para abastecer cidades que antes recebiam água do Descoberto.
Especialistas – O fim do racionamento, apesar de comemorado pela população, dividiu especialistas. Oscar Cordeiro Netto, diretor da Agência Nacional de Águas (ANA), considera acertada a decisão do governo. Já o coordenador dos cursos de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Católica de Brasília, Marcelo Resende, considera prematuro o anúncio do governo.
“Só teremos segurança hídrica quando tiver aumento no volume de água tratada chegando às residências. Isso ocorreria com as águas de Corumbá IV participando do abastecimento, mas trata-se apenas de uma projeção do governo”, avalia o especialista.