Mateus Gianni Fonseca (*)
“Bom dia, coloque R$ 10 de gasolina, por favor!”
Quem nunca ouviu esse pedido, ou melhor, quem nunca o fez? Um pequeno valor de abastecimento para completar uma viagem ou para, apenas, ir ali…
Há uma meme comum na internet. E que, neste caso, parece ser consenso que é apenas uma piada sobre a trágica situação que estamos a passar. Algo como: “A gasolina não está cara. Costumava colocar R$ 10 antes e continuo colocando R$ 10 agora”.
Há anos, um litro de gasolina custava menos de R$ 2,50. E com alguns aumentos sucessivos, estava para bater R$ 3 – o que já era um absurdo. Afinal, o país da Petrobrás não poderia ter um combustível tão caro assim. Era óbvio que este era um teto que não alcançaríamos. Teórico, apenas.
Teto infinito
O problema foi que não apenas atingimos esse teto, como parece que ele se encontra no topo de uma árvore plantada com feijões mágicos que não para de crescer. Ou de um teto que antes era de uma casa de simples pavimento, com menos de 3 metros. E que cresceu para uma casa de pé direito duplo. E que, agora, parece ser um prédio com muitos e muitos andares (e crescendo…) – pense num teto alto!
Qual seria, hoje, o temido valor de R$ 3 de anos atrás? Isto é, qual seria hoje o valor que seria tomado por absurdo, caso a cotação do litro de gasolina o ultrapassasse? Pergunta difícil. É difícil pensar em níveis de absurdo, haja vista que o país já se conecta a este adjetivo há algum tempo.
A gasolina passou dos temidos R$ 3 de outrora – depois, passou de R$ 4, R$ 5 e R$ 6. O valor já está chegando em R$ 7 (em alguns lugares, já o supera) e parece que logo estaremos pagando a fortuna de R$ 10 pelo litro. Se antes, colocar aqueles R$ 10 poderiam render quase 4 litros, agora já temos um rendimento de menos que 1,5 litro e, pelo jeito, chegaremos a fazer apenas 1 litro.
Bicicletas?
Seria um incentivo ao uso das bicicletas e demais meios de transporte? Uma preocupação ambiental? Uma evolução do pensamento humano sobre o cuidado para com o planeta que habitamos? Antes fosse. Mas, infelizmente, parece que não estamos evoluídos a pensar tanto assim em nossa grande morada. Resta o lucro.
E não tem sido só a gasolina que tem aumentado. Muito desemprego, inflação, aumento da pobreza extrema… Os tempos de glória – onde o acesso a viagens e a restaurantes tornou-se uma realidade para muitos – encontra-se em declínio…
E quando a urgência torna imperativo o uso do carro e o dinheiro já se faz escasso em determinada época do mês, há quem diga: “use o transporte público, é uma alternativa”.
Mas, resta a reflexão: qual seria a alternativa, o “transporte coletivo”, para a alimentação? Afinal, hoje, um botijão de gás custa, em alguns lugares, o equivalente a duas cestas básicas daquelas que o mercado já vende prontas e embaladas.
Seja de carro ou de transporte público, o fato é que o poder de compra tem ido para longe, bem longe…
(*) Professor
** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasília Capital