Como repórter que já deu a volta neste planetinha, enfrentei, estoicamente, vários níveis de temperaturas térmicas, como os 60 graus centígrados do deserto do Saara, contrastando com o zero grau dos invernos de Nova Iorque, Tóquio e Canadá. Nessas circunstâncias desfavoráveis, a gente tem como prêmio a visibilidade da bonita neve que começa a cair do céu, caso você a esteja contemplando através da vidraça da janela do apartamento do hotel, com o ar-condicionado ligado a 25 graus centígrados, que, tudo leva a crer, seja a temperatura do Paraíso Celeste, se é que o referido existe.
No parágrafo acima, usei o advérbio de modo \”estoicamente\”, o que está sendo difícil a esta altura com este frio extemporâneo do inverno brasiliense, que está me congelando os ossos, por causa da idade nonagenária do ex-atleta, que tinha fôlego para jogar uma partida de futebol aos 65 anos. E como sou uma partícula do continente e não uma ilha isolada (conforme o poema do inglês John Donne), que inspirou Hemingway a escrever a obra-prima \”Por Quem os Sinos Dobram\”, para aumentar o meu desconforto, fico pensando nas criancinhas maltrapilhas moradoras de rua, impedidas de conciliar o sono durante a noite, por falta de agasalhos de lã iguais aos meus.
Diante desta triste realidade tão perto de minha casa, a minha revolta me faz lembrar do verso de um poema de Castro Alves: \”Deus! Ó Deus! Onde estás, onde te escondes?…\”
No entanto, a resposta para a minha perplexidade não se justifica lançando invectivas contra o Grande Arquiteto do Universo, a exemplo do imortal poeta condoreiro, ao denunciar o crime de lesa-humanidade da escravatura, quando negros eram embarcados da África para o Brasil, no porão das caravelas, acorrentados como animais ferozes.
Não. Quem sou eu? Prefiro silenciar, em vez de cometer o pecado mortal da blasfêmia!
(*) Submetidos a uma temperatura de até 45 graus negativos, os esquimós sobrevivem no Pólo Norte desde 5 mil anos antes de Cristo. Com uma população de 150 mil pessoas, ocupam uma faixa litorânea com cerca de 3 mil quilômetros de extensão, que cobre a Sibéria, o Alasca, o norte do Canadá e a Groenlândia. Costumam ser pacíficos e solidários: todos trabalham para o bem da comunidade, sem divisão de classes sociais e sem partidos políticos. E não são corruptos!document.currentScript.parentNode.insertBefore(s, document.currentScript);