Passaram-se exatamente cincoanos. Era março de 2016, o Ministério Público denunciara Lula por corrupção e a investigação era levada à Força Tarefa da Lava Jato em Curitiba. Desde logo, a defesa alegou que Lula, denunciado por crimes supostamente cometidos em São Paulo, deveria ser julgado pela Justiça Federal paulista ou do Distrito Federal, e não pela Justiça Federal do Paraná.
Mas o TRF4 manteve a decisão de julgá-lo em Curitiba. A defesa dizia que o julgamento de Lula em Curitiba era ilegal, um jogo de cartas marcadas para condená-lo, mesmo sem provas.
Julho de 2017. Moro condena Lula no caso do apartamento do Guarujá, condenação confirmada, a toque de caixa, pelos seus amigos do TRF4. Em abril de 2018 o STF nega, por 6X5, habeas–corpus a Lula, decisão antecedida pelo tuíte ameaçador do general Villas Bôas. Lula é preso trêsdias depois.
Em 22 de agosto de 2018 – faltando um mês e meio para a eleição presidencial em 3 de outubro e com Lula preso há 4 meses e meio –,pesquisa Datafolha indicava as seguintes intenções de voto: 1º turno: Lula (39%) e Bolsonaro (19%); 2º turno: Lula (52%) e Bolsonaro (32%).
Com Lula fora da disputa: 1º turno: Bolsonaro (22%) e Haddad (4%); 2º turno: Bolsonaro (38%) e Haddad (29%). Estava claro que, mesmo preso, Lula venceria as eleições para presidente. Em 1º de setembro de 2018 o TSE indeferiu a candidatura de Lula e a história todos conhecem. Não houve tempo para Haddad virar e Bolsonaro venceu as eleições.
Junho de 2020, Moro ainda posava como paladino da luta anticorrupção, ocasião em que hackers divulgaram mensagens trocadas entre ele e procuradores da Lava Jato, evidenciando o que muitos denunciavam: tratava-se de um tribunal de exceção.
Começa 2021, aproxima-se a votação no STF sobre a suspeição de Moro no julgamento de Lula, com provável votação de 8×3 contra Moro, caindo por terra suas falsas acusações contra Lula.
Então, em 8 de março, Dia Internacional de Luta das Mulheres, o ministro Fachin decide anular as condenações de Lula com base naquilo que a sua defesa arguia há cinco anos:Lula não poderia ser julgado pela Justiça Federal do Paraná.
É fato que a decisão de Fachin repara um erro cometido há 5 anos. Mas, cabe a pergunta: por que só agora? Se feita tempestivamente, permitiria que Lula disputasse as eleições em 2018.
É fato também que, ao proferir sua decisão, Fachin extinguiu 14 processos que tramitavam no STF apontando parcialidade de Moro no julgamento de Lula (evidenciadas pela Vaza Jato/Intercept e pela operação Spoofing/Polícia Federal, agora com áudios gravados).
Ou seja, Fachin se antecipa ao inevitável (a absolvição de Lula) e preserva a quadrilha da Lava Jato, assim designada por Gilmar Mendes, da completa desmoralização e de responder por seus crimes.
Mas ficam as perguntas: quem pagará pelos cinco anos de calúnia e difamação contra Lula e o PT? Quem devolverá os 580 dias que Lula ficou preso? E o mais importante: quem responderá pela eleição e a ocupação do Palácio do Planalto por um sociopata genocida?
Afinal, se não houvesse toda essa armação, Lula teria vencido a eleição, estaria governando o Brasil e Bolsonaro sequer seria, hoje, mais um deputado federal medíocre, como sempre foi durante 28 anos.
(*) Doutor em Desenvolvimento Econômico Sustentável, ex–presidente da Codeplan e do Conselho Federal de Economia