E a cúpula do BRICS realizada em Johannesburg foi finalizada com a prevista ampliação do bloco. Aos quatro “países-baleia” originais (China, Índia, Rússia e Brasil), com a posterior incorporação do “peixinho” África do Sul, eis que alguns novos “peixinhos” (Argentina, Emirados Árabes Unidos, Etiópia) ou “peixes mais graúdos” (Irã, Arábia Saudita e Egito) são admitidos no bloco, numa composição que descaracteriza seus objetivos estratégicos iniciais.
Sim, o BRIC surgiu em 2006 num contexto de fortalecimento das quatro maiores economias emergentes do planeta e da necessidade de se fazer algum contraponto ao G-7, que agrupava as sete maiores economias do “mundo desenvolvido” e que “davam as cartas” no planeta e onde se desenhavam as iniciativas e políticas que determinavam o rumo da economia global. A iniciativa da formação do G-7, no início dos anos 1970, partiu das quatro maiores economias capitalistas (EUA, Alemanha, Grã-Bretanha e França), que logo convidaram Japão e Itália para o novo clube, e, em seguida, o Canadá (provavelmente, em breve, incorporará Espanha, Coreia do Sul e Austrália, o G-7+3).
Para se contrapor ao poderio do G-7, o BRICS deveria buscar a incorporação das principais economias emergentes (subdesenvolvidas ou em desenvolvimento) com status de potências regionais. Mas não foi o que ocorreu. Como explicar a entrada dos Emirados Árabes Unidos, país com população quase 30 vezes inferior à da Indonésia, que ficou de fora. Como justificar a ausência do Paquistão, potência nuclear com 235 milhões de habitantes e forte influência na Ásia Central? Por que razão entraram 4 países do Oriente Médio (Irã, Egito e Arábia Saudita, plenamente justificáveis) mas a principal potência regional, a Turquia, ficou de fora? Por que da África Subsaariana foi admitida a Etiópia e a principal potência africana, a Nigéria, não foi incorporada ao BRICS?
Por que razão o México não entrou como segundo membro da América Latina, embora tenha PIB e população quase três vezes superior à da Argentina?
Por fim, reitero que não procede o argumento de “analistas de botequim” que criticam a entrada de países com regimes autoritários. Ora, regimes e governos passam, países e povos permanecem. Não fosse assim, o próprio G-7 deveria se dissolvido, integrado que é por Alemanha e Itália, países governados em meados do século passado por regimes fascistas; pelo Japão, que no mesmo período, vitimou milhões de chineses, coreanos e outros povos asiáticos; por Grã-Bretanha e França, com seus passados coloniais de espoliação e genocídio de povos; e pelos EUA, há 160 anos com seu regime de “dois partidos e ideologia única”, que sustentam ditaduras mundo afora e mantém, sob permanente risco de aprisionamento e morte, cerca de 40 milhões de cidadãos negros.
Até breve: Nesta segunda-feira, 4 de setembro, me internarei no Hospital Brasília para a realização de transplante da medula óssea, em função de mieloma múltiplo identificado em fevereiro deste ano. Após extrair com sucesso, no final de julho, um nódulo maligno no rim esquerdo, encararei um desafio mais delicado, pois terei minha imunidade reduzida a zero nos próximos seis meses. Prestes a completar 66 anos em novembro, tudo isso está me fazendo encarar a vida de outra forma, despertado pelas indagações sobre a vida do saudoso Gonzaguinha: “E a vida, o que é? É maravilha ou sofrimento? Um divino mistério profundo? Um sopro do criador? Uma doce ilusão? Uma gota, um nada no mundo? E, por mais que esteja errada e que devia ser bem melhor, isso não impede
que ela seja sempre desejada”. Neste momento de dúvidas e receios, percebi que a minha vida, tão ou mais desejada que por mim mesmo, o é também por uma legião de amigos e amigas, pelos meus cinco irmãos, por minha querida Stella e por João, Paulo e Ana Laura, meus amados filhos. Portanto, também por eles, hei de vencer este desafio e, em breve, espero voltar a publicar meus artigos neste Brasília Capital. Até breve!