Júlio Miragaya (*)
Muitos gostam, muitos não gostam, alguns até odeiam. Mas é inegável que há quatro décadas um partido político está muito presente no dia a dia do povo brasileiro: o Partido dos Trabalhadores, que no dia 10 de fevereiro completa 42 anos de existência. Fundado em 1980 por sindicalistas que lutavam contra o arrocho salarial dos patrões, por liberdade sindical e contra os pelegos sustentados pelo PCB; pelos estudantes que combatiam a ditadura; por militantes das comunidades eclesiais de base; militantes egressos de organizações de esquerda e intelectuais, o PT foi se organizando em núcleos de base nas fábricas, nos bairros e nas escolas, à sombra dos predominantes PDS e MDB, que comandavam os Executivos federal e estaduais, o Congresso Nacional e as Assembleias Legislativas.
Seu momento de afirmação junto ao povo surgiu na campanha pelas eleições diretas em 1984/85 – quando não se dobrou à forte pressão e boicotou o Colégio Eleitoral da ditadura – passando a ter destacada atuação na Assembleia Nacional Constituinte (1987/88), no Congresso Nacional e assumindo o protagonismo na esfera eleitoral desde 1989, tendo ganhado quatro eleições presidenciais (2002, 2006, 2010 e 2014) e ficado em 2º em outras quatro (1989, 1994, 1998 e 2018).
Segundo a última pesquisa Datafolha, 64% do eleitorado brasileiro não manifestaram preferência por qualquer partido político, mas dos 36% que manifestaram, nada menos que 28% o fizeram pelo PT, seguido do PSDB e MDB (2% cada), PSol, PDT e PL (1% cada). O restante teve traço. E isso, mesmo após o verdadeiro massacre perpetrado contra o partido e sua maior liderança.
Como em qualquer instituição, organização, e mesmo nas “melhores famílias”, também no PT há “ovelhas negras”. Mas o verdadeiramente grave é que, em virtude do regime de “presidencialismo de coalisão” vigente no País, pagou o preço de trazer para sua base de governo políticos de outros partidos com currículos pra lá de suspeitos.
Não obstante tudo isso, foi nos governos do PT que a classe trabalhadora e a população mais pobre obtiveram suas maiores conquistas, mais prosperaram, muito embora mudanças mais efetivas na estrutura econômica, social e política do país não tenham ocorrido em decorrência de uma relativa fragilidade na organização e mobilização popular, resultando numa posição recuada ante à classe dominante. Nada que não possa ser corrigido.
Moïse e Durval: Moïse era um jovem negro de 24 anos que fugiu em 2014 da guerra civil do Congo e, desgraçadamente, veio encontrar a morte no Brasil. Trabalhava como atendente no quiosque Biruta, na Barra da Tijuca, e, por cobrar duas diárias não pagas pelo quiosque vizinho (Tropicália), onde trabalhara, foi morto covardemente por três sicários, a golpes de toco de madeira e taco de beisebol. Teve as mãos, as pernas e o pescoço amarrados com cordas, a exemplo do tratamento dispensado aos negros escravizados.
Durval, trabalhador negro, levou três tiros de um sargento da Marinha que achou que seria por ele assaltado. Caso corriqueiro de racismo escancarado. Se é negro, torna-se suspeito. Moïse e Durval foram vítimas de crime motivado não só por racismo, mas também por aporofobia (preconceito social contra os pobres).
Basta! Tais crimes não têm defesa. Merecem punição sumária e exemplar.
(*) Doutor em Desenvolvimento Econômico Sustentável, ex-presidente da Codeplan e do Conselho Federal de Economia
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