Neste início de 2024, os preços de alguns alimentos básicos dispararam. O pacote de 5 Kg de arroz oscila entre R$ 27 e R$ 45; 1 Kg do feijão preto está entre R$ 6,50 e R$ 9 e do carioca entre R$ 5,50 e R$ 8; o quilo da mandioca varia de R$ 4 a R$ 6, e o quilo da farinha de mandioca, de R$ 7 e R$ 18; o quilo da batata-doce oscila entre R$ 4 e R$ 6, e o quilo da batata-inglesa chega a absurdos R$ 10 assim como o da banana.
Fazendo analogia com a conhecida publicidade dos biscoitos Tostines – “É fresquinho porque vende mais ou vende mais porque é fresquinho?” –, podemos arguir: “A produção de alimentos tradicionais na mesa do brasileiro (arroz, feijão, mandioca, banana, batata-inglesa e batata-doce) caiu porque o povo não aprecia mais esses produtos, reduzindo seu consumo, ou o povo reduziu o consumo porque a retração na produção levou a considerável aumento nos seus preços?”.
Há seis décadas, em 1963, a safra brasileira apontou a colheita de 2 milhões de toneladas de feijão, 5,8 milhões t de arroz, 4,2 milhões t de banana, 22,2 milhões t de mandioca, 1,55 milhão t de batata-doce e 1,15 milhão t de batata-inglesa. Seis décadas depois, a produção de feijão cresceu 50% (para 3 milhões t); a de arroz cresceu 72% (10 milhões t); a de banana cresceu 67% (7 milhões t), a de mandioca caiu 16% (18,7 milhões t) e a de batata-doce caiu 45% (850 mil t). Dos seis produtos, apenas a de batata-inglesa teve aumento expressivo, de 239%, para 3,9 milhões de toneladas.
Ocorre que. neste período. a população cresceu 170% (de 76,5 milhões para os 206,5 milhões) – mitos creem que já somos 215 milhões. Como esses produtos têm comércio externo residual, sendo a produção quase equivalente ao consumo interno, e constatar que, com exceção da batata-inglesa, cinco dos itens mais presentes na mesa dos brasileiros tiveram expressiva queda no consumo per capita: arroz (-35%), banana (-37%), feijão (-43%), mandioca (-69%) e batata-doce (-79%). Apenas o consumo per capita da batata-inglesa cresceu (27%).
Não precisa ser economista, tampouco estudar a elasticidade-preço e a elasticidade-renda da demanda para concluir o óbvio: para além de mudanças no padrão de consumo, são o baixo rendimento de uma enorme massa de brasileiros e os elevados preços dos alimentos básicos que explicam a retração no consumo.
Num país onde 30 milhões de pessoas passam fome e outros 30 milhões não ingerem a quantidade de alimentos que necessita, e multidões nas periferias de algumas cidades chegaram a disputar o quilo do osso de vaca a 2 ou 3 reais, se fosse reduzido o pacote de 5 Kg de arroz para 10 ou 12 reais, ou o de 1 Kg de feijão para 3 reais, alguém tem dúvida de que o consumo desses produtos iria disparar?
E por que a produção de alimentos básicos está caindo tanto no Brasil? Porque nos tornamos um país de 3 culturas (soja, milho e cana-de açúcar), produzidos pelos grandes latifundiários. O total da área cultivada cresceu 203% de 1963 a 2023, de 31 milhões para 94 milhões de hectares (ha). Ocorre que os 10,04 milhões ha ocupados em 1963 pelo trio soja/milho/cana representavam 32,4% da área cultivada, percentual que saltou para 80,2% em 2023 (75,3 milhões ha). Já arroz, feijão, outros 11 grãos e 62 frutas, legumes, tubérculos e hortaliças, que ocupavam 67,6% da área em 1963, passaram a ocupar apenas 19,8% em 2023.
Há 60 anos, a área ocupada por soja/milho/cana era praticamente igual (6,7 % maior) que a ocupada pelos seis produtos básicos citados (9,41 milhões ha). Mas, em 2023 passou a ser incríveis 1.174% superior, visto que a ocupada por soja/milho/cana aumentou 650%, ao passo que a área ocupada pelos seis alimentos básicos decresceu 37,1% (5,91 milhões ha).
Portanto, esqueçamos essa balela de que a turma do “ogronegócio” é patriota. Eles vão em busca de maximização de seus lucros, mesmo que tal ação gere dificuldades e mesmo fome para dezenas de milhões de brasileiros. No mais, têm residência na Flórida e mandam seus filhos estudar nos EUA ou na Europa. Seu patriotismo de araque resume-se a vestir a camisa do Neymar.
O Senado norte-americano aprovou o orçamento militar de US$ 886 bilhões para 2024, e uma “verbinha” extra de 97 bilhões: para o governo corrupto de Zelensky Ucrânia (61 bi), para o massacre de Netanyahu em Gaza (14 bi), Taiwan (5 bi) etc. Como bem sintetizado na Declaração Final do 10º Congresso Mundial da 4ª Internacional:
“O imperialismo e os governos que lhe são subservientes são responsáveis pela situação na Palestina e na Ucrânia. O imperialismo norte-americano tem procurado constantemente cercar a Rússia, para pô-la de joelhos, e, depois, atacar a China e questionar a sua posição econômica no mercado mundial”.
Nada a acrescentar!