O governo Lula se aproxima dos 100 primeiros dias com uma aprovação nada animadora. Segundo pesquisa DataFolha, apenas 38% dos brasileiros consideram como ótimo ou bom e 29% o consideram ruim ou péssimo. Além disso, 61% pensam que ele agiu mal ao negociar cargos e verbas por apoio no Congresso. O que levou o governo a essa avaliação pouco satisfatória? A seguir teceremos alguns comentários que poderão explicar essa percepção, que esperamos seja passageira.
Lula terá que governar com um dos piores parlamentos de nossa história, especialmente na Câmara dos Deputados. O ex-presidente Bolsonaro conseguiu piorar em muito a composição do Congresso, ao disponibilizar uma enorme quantidade de recursos públicos nas mãos dos políticos do Centrão e direcionar toda a estrutura do Estado para angariar apoios políticos visando à sua reeleição e a eleição de uma maioria de parlamentares apoiadores do seu governo.
Infelizmente o povo ainda não entendeu a dinâmica da democracia. Ao votar, não tem a percepção de que o mandatário não governa isoladamente, mas em conjunto com o Parlamento. E que, portanto, é ilógico votar ao mesmo tempo num presidente e em parlamentar que lhe fará oposição. E continuará sendo assim, se nada for feito para elevar a consciência social e política do povo, de forma a incluí-lo na democracia.
Lula não tinha, nessas circunstâncias, alternativa senão negociar com o Centrão fisiológico, na busca de construir uma base de sustentação de seu governo, necessária à aprovação de seus projetos. E a negociação com partidos fisiológicos só pode ser feita com base do toma-lá-dá-cá.
Aos que estão insatisfeitos com isso, preciso se faz esclarecer que Lula não fez isso por livre vontade, mas por necessidade. Pior: apesar de ter distribuído ministérios e verba para partidos do Centrão, a percepção é de que seu governo ainda não tem uma base sólida suficiente para aprovar projetos de seu interesse. Eles são insaciáveis…
E não nos iludamos: a cisão do Centrão, recentemente ocorrida, com a formação de um novo bloco de 142 parlamentares, poderá até enfraquecer o poder de Arthur Lira, mas significa apenas que teremos doravante dois Centrões.
Não resta dúvida de que Lula tem enfrentado e enfrentará grandes dificuldades para exercer o seu terceiro mandato como Presidente. É utópico esperar que ocorram grandes avanços; que ele seja capaz de reverter, por exemplo, a entrega do patrimônio do País ao capital internacional feita pelos governos anteriores, notadamente por Bolsonaro.
Continuaremos a exportar “in natura” os nossos ricos minérios e a soja aqui produzida, que vão gerar empregos e renda em outros países, especialmente China e EUA, em detrimento de um projeto nacional de industrialização. Para nós restarão a degradação ambiental do solo e dos rios, poucos ricos e muitos pobres.
Quando muito, o “deus mercado” vai permitir que Lula cuide dos programas sociais, voltados à mitigação da pobreza. Desde que isso seja feito com moderação, sem grandes ônus para os cofres públicos, de forma a não comprometer a capacidade de pagar os juros e encargos da dívida pública que, com a manutenção da atual taxa de juros, alcançará mais de R$ 800 bilhões em 2023.
E o resto deixe que ele (deus mercado) comande como sempre foi e continuará sendo. E os militares continuam falando em soberania…
Outros obstáculos, alguns de difícil superação, também atrapalham os planos do novo governo: o Banco Central sob controle do mercado, defendendo os interesses dos rentistas, com a manutenção da taxa de juros em patamar elevado (13,75% / ano, a maior do mundo); a mídia corporativa que continua batendo forte; a extrema direita organizada nas redes sociais, prosseguindo na divulgação de fakes news, e no Congresso Nacional.
Bastou algumas falas infelizes e desnecessárias proferidas por Lula, sempre em relação ao ex-juiz desmoralizado e atual senador Sérgio Moro, para que a oposição se entusiasmasse. No jargão popular, Lula bateu palmas para doido dançar.
Até o ex-presidente de triste memória resolveu voltar ao Brasil. E desembarcou elogiando o Parlamento, afirmando que este melhorou muito e que tem esperança de que criará grandes dificuldades para o governo de seu opositor.
É preciso ressaltar, no entanto, que o governo Lula 3, apesar dos percalços, tem promovido boas ações, com destaque para: beneficiar os excluídos, como a retomada dos programas Bolsa Família e Minha Casa, Minha Vida, dentre outros; coibir o garimpo ilegal; proteger a Amazônia; salvar o povo indígena Yanomami; retomar o diálogo com a sociedade; restabelecer o diálogo com todos os governadores, com os quais firmou um pacto pela defesa da democracia, pelo desenvolvimento socioeconômico e pela retomada de obras paralisadas.
Cite-se, ainda, a retirada da Petrobras, dos Correios e mais 6 empresas públicas da lista de privatização. Neste contexto, aos verdadeiros democratas cabe uma missão quase sagrada: lutar para conter a onda nazifascista que envolveu parcela significativa da sociedade. Não nos resta alternativa: temos que apoiar e defender o governo Lula. As hienas bolsonaristas vão continuar atentas, aguardando uma oportunidade para atacar.