As quatro décadas de experiência como instrutor de voo não bastaram para Ubiratan de Melo, 62 anos, evitar uma tragédia familiar. Por volta das 14h30 de ontem, um acidente improvável matou o filho de dele, Frederico Medeiros de Melo, 32 anos, também professor de pilotagem amadora. Cada um conduzia um ultraleve avançado. Na altura da Fazenda São Lucas, em São Sebastião, os dois fizeram um sobrevoo lado a lado. Porém, uma possível manobra mal executada causou uma colisão no ar. Sem o controle do equipamento, Frederico não foi capaz de evitar a queda de bico. Ele morreu na hora. Ubiratan, mesmo com o veículo avariado, pousou em segurança no Aeródromo Botelho, situado na região.
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Ubiratan esteve no local da queda do monomotor, mas ficou em estado de choque ao ver o corpo do filho em meio às ferragens. Até a noite de ontem, ele permanecia em observação em um hospital particular. Moradores da área rural de São Sebastião foram os primeiros a chegar ao ponto do acidente. A informação inicial dava conta de que havia mais passageiros no monomotor, por isso, o Corpo de Bombeiros mobilizou quatro equipes e um helicóptero. Como se trata de uma colisão envolvendo duas aeronaves classificadas como de “caráter experimental”, proibidas de sobrevoar áreas urbanas, a Força Aérea Brasileira (FAB) informou ao Correio Braziliense que não participa desse tipo de investigação.
Homicídio culposo
Todo o trabalho para apontar as causas do acidente aéreo ficará sob a responsabilidade da 30ª Delegacia de Polícia (São Sebastião). À frente do inquérito, o chefe da unidade, delegado Érito Cunha, avaliou que, provavelmente, houve imperícia de ambos os pilotos, mas que somente a perícia técnica poderá indicar que tipo de erro determinou a colisão no ar e a queda de uma das aeronaves. “O pai deve ser indiciado por homicídio culposo, mas, certamente, não ficará preso. Nesse caso, nenhuma pena pode ser maior do que a perda de um filho”, afirmou.
Terminal arrendado
Localizado às margens da BR-251, em São Sebastião, o Aeródromo Botelho tem pouco mais de dois anos de funcionamento. É o segundo maior terminal do DF, com 1 mil hectares de área. São 65 hangares, e 105 aeronaves são guardadas ali. A pista do aeroporto privado tem 1.750m, quase o equivalente ao espaço para pousos e decolagens de Congonhas, em São Paulo. Mas o terminal foi construído em uma antiga fazenda, na área rural da cidade, local que deveria ser destinado a atividades agrícolas. A Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap) é dona das terras e não sabe como foram negociadas as parcelas hoje ocupadas por hangares. Segundo os proprietários do aeroporto, os lotes são apenas arrendados, e as operações realizadas na pista não são cobradas, seguindo as regras da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para abertura e operação de aeródromos.