Na última semana, o FMI divulgou a taxa de crescimento em 2023 do PIB dos principais países do planeta e suas projeções para 2024. A observação desses números nos permite algumas reflexões importantes, como conceber se o crescimento da economia brasileira em 2023 (2,9%) é para ser comemorado. Mais uma vez os países cujas economias mais cresceram em 2023 e que devem apresentar maiores taxas de crescimento em 2024 estão na Ásia: Índia (6,7%), Irã (6,4%), Filipinas (5,6%), China (5,2%), Vietnam e Indonésia (5%), Turquia (4,5%), etc.
Para tornar os dados mais consistentes, vejamos o crescimento acumulado de 2020 a 2023 nas trinta principais economias do mundo, ressaltando que 2020 foi ano de decréscimo do PIB em quase todos os países, em função da pandemia da covid-19. Entre as 20 principais economias ditas emergentes (em desenvolvimento), a fila é puxada por Bangladesh (25%) e Turquia (24,6%), seguidas da China (20,1%), Irã (19,3%), Vietnã (18,3%), Egito (16,6%), Índia (15,7%), Paquistão (13,1%) e Indonésia (12,2%).
O Brasil, com crescimento acumulado de 7,6%, aparece na 15ª posição, atrás ainda do Paquistão (13,1%), Nigéria (11,4%), Colômbia (11,2%), Arábia Saudita (10,4%), Malásia (9,1%) e Rússia (7,7%), empatado com as Filipinas e à frente apenas da Argentina (3,3%), África do Sul (2%), México (1,6%) e Tailândia (0,2%). Aliás, de que valeram as sanções impostas pelos EUA e seus vassalos europeus ao Irã e à Rússia?
Entre os 10 principais países ricos, a Austrália aparece com crescimento acumulado de 9,2%, seguida dos EUA (8,2%) e Coreia do Sul (7,5%). Na sequência vem o Canadá (4,4%) e as 5 maiores economias europeias, com a Alemanha, Grã-Bretanha e França se situando entre o reduzido crescimento da Espanha (2,7%) e o pífio desempenho da Itália (0,9%). Fechando a fila, o Japão, com crescimento negativo (-1%).
Mas, se observarmos o que ocorreu nas últimas 4 décadas, o cenário é ainda mais chocante. De 1980 a 2022, o PIB PPC (per capita) do Brasil aumentou 221%, de US$ 4.700 para US$ 15.100. No mesmo período, tivemos os seguintes incrementos nos países asiáticos: Filipinas (348%), Paquistão (504%), Malásia (745%), Turquia (838%), Indonésia (861%), Bangladesh (900%), Tailândia (1.008%), Índia (1.240%), Vietnam (2.011%) e China, com incríveis 5.771% (crescimento de 10,18% ao ano).
Também os chamados Tigres Asiáticos cresceram mais no período: Hong Kong (871%), Cingapura (1.157%), Taiwan (1.793%) e Coreia do Sul (1.997%). Até o Japão cresceu mais (355%). O Brasil cresceu menos que a Argentina (263%) e só superou o México (205%). Uma tragédia!
Em 1980, o PIB per capita de Cingapura (US$ 6.000) era pouco maior que o do Brasil (US$ 4.700) e hoje é o quíntuplo (US$ 75.400 x 15.100). O da Coreia do Sul era menos que a metade (US$ 2.170) e hoje é o triplo (US$ 45.500). O da Turquia (US$ 3.520) era 75% do brasileiro e hoje é mais que o dobro (US$ 33.000). E o da China era 15 vezes menor (US$ 310) e hoje é 20% superior ao brasileiro (US$ 18.200). E o pior: todos os 10 países ricos aqui listados tiveram crescimento do PIB PPC acima do brasileiro. O menor crescimento, o da agonizante Itália, foi de 302%. É mais que uma tragédia!
Isso tudo tem a ver com as diferenças entre os modelos de desenvolvimento econômico adotados pelo Brasil e pelos países asiáticos. Enquanto estes optaram por uma industrialização acelerada e a busca de mercado externo para seus bens industriais, o Brasil abraçou o modelo neoliberal da desindustrialização; enquanto esses países investiram fortemente em educação e C,T&I, o Brasil patinou nessas duas áreas.
O Brasil investiu mesmo foi no agronegócio (soja, milho, cana-de-açúcar, carnes e celulose) e na produção mineral (petróleo e ferro). O resultado foi, além da desindustrialização, a reprimarização da nossa pauta de exportação. Em 2023, o Brasil exportou o recorde de US$ 340 bilhões, sendo que o “agro” exportou 167 bi (49%); o setor mineral 95 bi (28%); e todo o resto, 78 bi (23%). Nada menos que 77% de nossas exportações são de commodities agrícolas e minerais. Voltamos a patamares da década de 1960.
Comparação com países similares: a Indonésia exportou US$ 292 bilhões em 2022, sendo que 82 bi em produtos agrícolas e minerais (28%). O México exportou US$ 593 bi em 2023, sendo 64 bi em produtos agrícolas e minerais (10,8%). A Índia exportou US$ 432 bi em 2023, sendo 55 bi em produtos agrícolas, ou 12,7% (além dos US$ 432 em bens, a Índia exportou US$ 334 bilhões em serviços, especialmente de informática e comunicação).
E a China exportou US$ 3,6 trilhões em 2023, sendo apenas 2,9% de produtos agrícolas (103 bi). Até mesmo nos EUA, os maiores exportadores mundiais de produtos agrícolas, os US$ 222 bi representaram apenas 8,9% de suas exportações totais (US$ 2,5 trilhões). E há quem ache que o agro é pop!