Vimos no artigo da semana passada que a economia brasileira, após ter disputado com a China e o Canadá a condição de 8ª maior do mundo no fim da década de 1970, refluiu para o 16º posto na virada da década de 2000 (US$ 508 bilhões em 2002) e voltou a subir no ranking nos anos seguintes do governo Lula.
Fechou a década com crescimento econômico recorde de 7,5% e, com o aumento de 4% em 2011, o PIB brasileiro alcançou seu maior valor histórico em dólares nominais correntes (US$ 2,62 trilhões), disputando com Reino Unido e França a condição de 5ª maior economia do planeta, suplantada apenas por EUA, China, Japão e Alemanha.
Se de 2011 e 2013 o desempenho ainda foi razoável (crescimento médio de 3,0% ao ano), a partir de 2014 uma série de equívocos provocou o descarrilamento da economia que perdura até hoje e iniciou nova derrocada. Começou com o oba-oba da Copa, quando se priorizou investimentos em estádios em vez de se buscar atender as demandas em saúde, saneamento e educação; passou pelas vultosas desonerações (isenções fiscais) a praticamente todos os segmentos empresariais, liquidando o superávit primário.
Essa onda culminou com a nomeação do neoliberal Levy para a Fazenda e a sabotagem do governo viapauta bomba de Cunha. Estava desenhado o roteiro para o golpe que levou Temer ao Planalto. Ocorre que, mesmo com o baixo crescimento em 2014 e a queda do PIB em 2015, a economia brasileira perdera apenasduas posições (para Itália e Índia) e se manteve entre as dez maiores do mundo.
Mas a retomada da economia prometida pelos neoliberais não veio, e as reformas trabalhista e previdenciária só fizeram agravar a situação. Temer entregou ao país queda de 3,3% do PIB em 2016 e crescimentos pífios de 1,3% em 2017 e 2018, de forma que, em 2018, o PIB brasileiro caíra para US$ 1,86 trilhão.
Além de ter se distanciado das economias do Reino Unido e da França e sido superado pelos da Itália e Índia, foi também suplantado pela Coréia do Sul, Rússia e Canadá, além da Indonésia (pelo critério de Paridade do Poder de Compra). Para piorar, em função do pífio crescimento de 1,1% do PIB em 2019, do violento tombo previsto em 2020 (-10%) e da forte desvalorização cambial nestes dois anos, o PIB nominal brasileiro deverá fechar o ano (e a década) abaixo de US$ 1,3 trilhão.
Assim, o Brasil deve ser superado pelas economias da Espanha e Austrália, refluindo para o 15º do mundo, como no fim do governo FHC. E já vendo México, Holanda e Turquia pelo retrovisor.
(*) Doutor em Desenvolvimento Econômico Sustentável (UnB) e ex-presidente da Codeplan e do Conselho Federal de Economia