SÃO PAULO e CURITIBA – A Polícia Federal realiza a 27ª fase da Operação Lava-Jato, intitulada Operação Carbono. Cinquenta policiais federais estão cumprindo 12 ordens judiciais, sendo 8 mandados de busca e apreensão, 2 mandados de prisão temporária e 2 mandados de condução coercitiva. Entre os que tiveram prisão temporária – cinco dias – estão Ronan Maria Pinto, dono do jornal Diário do Grande ABC, e Silvio Pereira.
As medidas estão sendo cumpridas nos municípios de São Paulo (3 mandados de busca e apreensão e 2 mandados de condução coercitiva), Carapicuíba/SP (1 mandado de busca e apreensão e 1 mandado de prisão temporária), Osasco/SP (1 mandado de busca e apreensão) e Santo André/SP (3 mandados de busca e apreensão e 1 mandado de prisão temporária).
Os fatos investigados nesta fase apuram, ao menos em tese, a prática dos crimes de extorsão, falsidade ideológica, fraude, corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro.
Os presos serão encaminhados para a Superintendência da Polícia Federal em Curitiba/PR, enquanto aqueles conduzidos para depoimentos serão ouvidos na cidade de São Paulo/SP.
O nome de Ronan apareceu na Lava-Jato em novembro, após operação da Lava-Jato que levou à prisão o pecuarista José Carlos Bumlai. A investigação apura um empréstimo de R$ 12 milhões feito por Bumlai no banco Schaim em setembro de 2004. Enquanto alguns delatores dizem que o dinheiro seria utilizado para quitar dívidas do PT, há uma versão de que parte dele tenha sido destinado para pagar Ronan, que, a época, teria chantageado o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Silvio Pereira teria participado dessa negociação. Em setembro de 2012, o publicitário Marcos Valério, condenado a 40 anos de prisão no esquema mensalão, contou à Procuradoria-Geral da República (PGR) que o ex-secretário-geral do PT Sílvio Pereira o havia procurado em 2004 pedindo ajuda porque Lula e os ex-ministros José Dirceu e Gilberto Carvalho estavam sendo chantageados por Ronan. O empresário do ABC teria pedido R$ 6 milhões em uma reunião com Pereira e Valério para comprar um jornal. Segundo Valério, que tentava um acordo de delação premiada com a Justiça, Pereira disse que o valor havia sido obtido por Bumlai junto ao Schahim e repassado ao empresário.
Um relatório da Receita Federal, datado de 11 de novembro e anexado ao processo da Justiça Federal de Curitiba, revela que há “grande possibilidade de que o real destino deste valor de cerca de R$ 12 milhões (…) teria mesmo de fato beneficiado, ao final, o cidadão Ronan Maria Pinto na aquisição em 2004 de 100% das ações do Diário do Grande ABC S/A”. A análise dos impostos de renda de Ronan indicaram “dívidas suspeitas”, segundo a análise do perito da Receita.
Para comprar parte das ações do Diário do Grande ABC, Ronan fez empréstimos de duas empresas de que ele mesmo é sócio: a Rotedali e a Expresso Nova Santo André. Embora tenham sido feitos em 2004, as duas dívidas não haviam sido inteiramente quitados até 2014, ainda de acordo com a análise dos impostos de renda. O perito sugere que os fatos sejam melhor investigados, pois, na opinião dele, as dívidas não pagas poderiam ter servido para “dissimular a real origem dos recursos utilizados” na compra do jornal, que poderia ser o dinheiro de Bumlai.
Ronan sempre negou qualquer envolvimento na narrativa apresentada por Valério.