Cientistas da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram uma nova técnica para o tratamento da depressão. Uma estimulação elétrica indolor feita com a ajuda de dois eletrodos, colocados na cabeça do paciente, poderá servir como alternativa para quem sofre da doença, mas não toma os medicamentos antidepressivos devido aos fortes efeitos colaterais.
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De acordo com o coordenador da pesquisa, o médico psiquiatra Andre Russowsky Brunoni, pessoas jovens, as mais acometidas pela depressão, evitam remédios para a doença porque muitas vezes eles vêm acompanhados de ganho de peso e disfunção sexual. Mulheres grávidas ou que estão amamentando também são impedidas de ingerir essa medicação.
Segundo o cientista, os eletrodos transmitem uma corrente elétrica contínua de baixa intensidade para a área do cérebro que envolve a depressão, o córtex dorso lateral pré-frontal. A corrente corrige o baixo funcionamento dessa região cerebral, característica de quem sofre de depressão. “A estimulação elétrica aumenta a atividade dessa área do cérebro. Com isso, a gente tenta melhorar os sintomas depressivos”, explicou.
O procedimento dura 30 minutos e é repetido por 15 dias consecutivos. “Algumas pessoas sentem um leve formigamento na cabeça, mas outras não sentem absolutamente nada”, conta.
Outra vantagem da nova técnica em relação aos antidepressivos é a forma de atuação no organismo. Enquanto o remédio age em neurotransmissores que atuam no cérebro inteiro, ocasionando reflexos negativos em outras partes do corpo, a estimulação elétrica atua diretamente no córtex pré-frontal.
Além disso, embora o resultado de ambos os tipos de tratamentos (remédio e estimulação elétrica) seja o mesmo, o medicamento acaba passando por outras áreas subcorticais para só depois chegar ao córtex pré-frontal.
Esta não é a primeira vez que a eletricidade é usada no tratamento de transtornos mentais. Russowsky cita a tradicional técnica do eletrochoque, usada há 75 anos por psiquiatras. De acordo com ele, esse é um tratamento bem mais radical do que a estimulação que está sendo desenvolvida pela USP, destinado a pacientes com quadros muito graves. “É uma carga elétrica mil vezes maior do que a gente usa”, disse.
O tratamento por eletrochoque tem como objetivo provocar uma crise convulsiva em pacientes que apresentam casos graves de transtornos mentais, o que estimula a regulação de hormônios e de alguns neurotransmissores. “A única semelhança entre as duas técnicas é que elas usam a eletricidade, mas de forma bem diferente. O eletrochoque é um pulso elétrico para fazer uma crise convulsiva, a gente usa uma corrente elétrica de baixa intensidade para aumentar a atividade no cérebro”, define.
A estimulação criada pelo grupo de Russowsky já foi testada, há três anos, em 120 pacientes. “O resultado principal foi que a combinação da estimulação com o antidepressivo dava efeitos mais potentes que cada tratamento separado”, disse o médico.
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O próximo passo da pesquisa será testar a estimulação sozinha. Serão recrutados 240 voluntários, entre 18 e 75 anos, com diagnóstico de depressão, no mínimo, moderada e que apresentem sintomas da doença.
Em um teste cego, metade dos pacientes vai receber o antidepressivo Escitalopram, e a outra metade recebe a estimulação elétrica. “Nem o paciente, nem o pesquisador saberão o que estão recebendo, senão favorece inconscientemente um dos grupos”, esclarece.
Ao final da pesquisa, aqueles voluntários que foram testados com o antidepressivo, e que não tiveram melhora do seu quadro, poderão receber o tratamento com a estimulação elétrica.
Nos próximos três anos, as equipes de Russowsky vão aceitar voluntários interessados em participar da pesquisa. Basta enviar e-mail para pesquisa.depressao@gmail.com. Mais informações estão disponíveis no site http://cinausp.org/pesquisa