O lema acima é bem mais apropriado ao desgoverno Bolsonaro do que seu hipócrita slogan “Pátria amada, Brasil!”. O atual momento do país nos faz lembrar um trecho de “Vai Passar”, composição de Chico Buarque, de 1984, se referindo ao período da ditadura militar:
“Num tempo, página infeliz da nossa história… Dormia, a nossa pátria mãe tão distraída, sem perceber que era subtraída, em tenebrosas transações”. Bolsonaro vem privatizando e desnacionalizando bens públicos, roubando direitos históricos, jogando milhões na miséria. Enfim, destruindo o Brasil.
Sem o menor escrúpulo, o presidente-genocida e seu “posto Ipiranga” (o que disse que “o dólar vai a R$ 5 se o governo fizer muita besteira”) mentiram descaradamente em suas andanças no exterior (Roma e Dubai), na insana ilusão de achar que investidores vão levar em conta seus grotescos e delirantes discursos, pois todos sabem que a situação no Brasil é bem diferente.
Inflação
Que, por exemplo, a inflação acumulada em 12 meses (10,68%) é a maior dos últimos 19 anos, desde os 12,53% de 2002, com FHC; superando a inflação de 2015 (10,67%), com Dilma. E que a chamada “inflação dos pobres” é muito maior, pois os alimentos aumentaram 14,7%; a energia, 28,8% e o gás de cozinha, 34,7%, enquanto os salários foram reajustados entre 5% e 8%.
A burguesia, imaginando uma derrota acachapante de Bolsonaro para Lula, busca desesperadamente a tal terceira via, e agora investe em Moro. Sim, a aposta do mercado é o juiz que não deveria ter sido o juiz da causa e que condenou um réu (Lula) com base numa denúncia sem provas, articulada com a Procuradoria e baseada unicamente na delação de empresários ávidos por uma redução de pena.
Moro
Poderíamos imaginar um hipotético diálogo entre Moro e a juíza Gabriela Hardt, que o substituiu na Vara da Justiça Federal do Paraná quando ele foi nomeado ministro da Justiça de Bolsonaro: “Então, Dr. Moro, o que devo fazer aqui?”; “Ora Gabriela, condenar o Lula, claro!”; “Mas já temos as provas?”; “Pra que isso! Temos as delações e o desejo dos empresários, militares e da grande mídia”; “Mas, Dr. Moro, eu não sei o que escrever na sentença”; “Simples, copie as mentiras que eu pus no processo do apartamento do Guarujá”; “Mas depois o processo vai ser julgado no TRF4”; “Tranquilo, é tudo nosso!”; “E depois, o que faço?”; “Fica fria, o Dallagnol vai te enviar uma planilha dizendo o que julgar agora e o que jogar para o fim da fila”; “Mas ele é da Procuradoria, não é da Justiça Federal”; “E daí! O que vale na República de Curitiba é o que está no Código do Processo Penal do Russo”.
Moro é o herói dos que acham que país decente é aquele que condena sem provas as pessoas de quem eles não gostam ou que afetam seus interesses. Como bem discorreu o ex-vice-presidente da Bolívia, Álvaro Garcia Liñera, em entrevista à BBC:
“A política é como você direciona o horizonte de previsão das pessoas. Há o esgotamento do horizonte preditivo do neoliberalismo. Hoje, em tempos de esgotamento hegemônico neoliberal, a democracia aparece como um entrave. À medida que o povo se apropria do fato democrático, a direita perde o controle e se distancia do fato democrático, porque ele não mais atende seus interesses. Nessa hora emerge o Neoliberalismo 2.0, disposto ao golpe, ao massacre para sobreviver”.
Em outras palavras, com Bolsonaro ou com Moro, o povo e a débil democracia brasileira correm perigo. Todo cuidado é pouco!
(*) Doutor em Desenvolvimento Econômico Sustentável, ex-presidente da Codeplan e do Conselho Federal de Economia
** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasília Capital