O dinamarquês Soren Kierkegaard foi o primeiro filósofo a definir o que vem a ser Angústia Existencial, que é inerente ao ser humano, dado que não nos é permitido saber nada acerca do futuro. Trocando em miúdos, a expressão se resume a um balanço geral para “prestação de contas” de nossas atitudes, diante do que a Igreja Cristã identifica como Ato de Contrição, na autoavaliação de nossas faltas agravadas como “pecados”. E pelo visto não perturba a consciência dos mais jovens e sim dos que estão bem acima do que Sartre chamava de “a idade da razão”, aliás, como é o meu caso.
Sendo assim, ultimamente, continuo indagando o que fiz de errado nesta já minha longa vivência, referendada nos Sete Pecados Capitais, condenados pelas leis cristãs: Luxúria, Gula, Avareza, Ira, Soberba, Vaidade e Preguiça. Sinceramente, em meu autojulgamento, me perdoei em quase todos, menos no item da Gula. Mas como passei fome em minha adolescência, me perdoei, advogando o argumento de defesa da “compensação”.
No entanto, me coloquei espontaneamente no banco dos réus, indiciado num pecado que não está relacionado nessa lista dos sete: a Jogatina. Francamente, não resisto à tentação diante de uma roleta, de um baralho ou dos chamados jogos de azar. E diga-se que nunca tive sorte nessas práticas de perder dinheiro. Mesmo ciente da validade da teoria das probabilidades, do matemático francês Blaise Pascal, de que a vantagem é de quem banca as 999 chances contra 1 do otário que arrisca (eu) -, continuo perseguindo, em vão, a Mega Sena e a milhar da vaca no Jogo do Bicho.
Desconfiado de que esse vício impediria meu ingresso ao Paraíso no Julgamento Final, alimentei a esperança de escapar, ao descobrir, surpreso, que os santificados também gostam de fazer uma fezinha. Isso aconteceu em Uberaba, quando meu saudoso amigo Francisco Xavier me entregou uma pequena quantia e me pediu (em absoluto segredo) que jogasse em determinada milhar da Loteria Federal. Acreditando que seria sócio majoritário dos lucros, quadrupliquei o valor numa poule em separado, grana que seria embolsada por mim. No dia seguinte, deu zebra. Inconformado, perguntei ao Chico o que tinha acontecido de errado. A resposta saiu rebocada no seu doce sorriso:
– Os espíritos iluminados não interferem em jogos de azar!