A dona de casa Ingrid Pereira está acampada desde as 6h40 de sexta-feira (19) na fila no Centro de Ensino Médio Ave Branca (Cemab). Ela é uma das centenas de pessoas à espera de uma das vagas remanescentes em escolas públicas de Taguatinga. A divulgação da quantidade de vagas disponíveis acontece a partir das 17h desta segunda-feira (22). A efetivação das matrículas será na terça-feira (23).
Na fila, os acampados recorrem a coolers e marmitas para garantir bebidas, lanches e refeições. Ingrid tenta uma vaga para a filha Raíssa Pereira, de 16 anos, no primeiro ano do ensino médio. Seu marido está na fila no colégio vizinho, o Centro de Ensino Fundamental 15, em busca de uma vaga para a filha mais nova.
A fila aumentou nesta segunda-feira e chegou a ter 140 pessoas no final da manhã. Entretanto, a informação de que não haverá vagas para o 3° ano do Ensino Médio fez muita gente desistir. “Vi vários alunos fazendo transferências do 3° ano e, mesmo assim, eles informaram que não teriam vagas disponíveis”, conta Ingrid.
A dona de casa reclama que a escola também poderia, pelo menos, ter liberado o banheiro. “Estamos em condições subumanas. Não temos nem onde fazer ‘xixi’”, protestou Ingrid.
Controle
A organização da fila é feita pelos próprios integrantes, que têm uma lista manual com o ordenamento dos inscritos. Pelo menos cinco vezes ao dia são feitas confirmações de presença.
Em busca de uma vaga para a filha no 1° ano do Ensino Médio do Cemab, Orquídea Rodrigues passa o tempo organizando e ajudando os familiares que não têm biscoito ou água.
“É tudo feito com união e amor ao próximo. Quem tem barraca, fica na barraca. Caso contrário, buscamos papelão ou outros meios para acomodar melhor as pessoas. Emprestaram-me até protetor solar e arrumamos uma lona que nos protege”, diz ela.
Orquídea fala que precisa da vaga “de qualquer forma”. Apesar de morar no Recanto das Emas, ela prefere que a filha estude no Cemab devido à proximidade com Centro Interescolar de Línguas de Taguatinga (Cilt), onde a menina estuda inglês.
Segurança
O primeiro a chegar para as matrículas no Centro de Ensino Fundamental 15 foi Gabriel Ferreira, de 26 anos, que está atrás de uma vaga para os dois sobrinhos, de 15 anos e 16 anos, no 7° ano. Segundo ele, o calor que incomoda os acampados durante o dia dá lugar à insegurança de Taguatinga Centro à noite.
“Nós temos que nos revezar para fazer ronda para garantir o mínimo de segurança. Um dia desses passou uma pessoa com a cara rasgada. Fora a quantidade de drogados circulando de madrugada. É uma humilhação. Eles tinham que mostrar antes a relação de vagas”.
A direção do Cemab informou que não aconselha que as famílias fiquem acampadas para fazer matrículas, pois a seleção é feita pela Coordenação Regional de Ensino.
“É possível que não tenha vaga para todos”, alertou o diretor do colégio, André Corrêa. Sobre as transferências de vagas, informou que as que sobram são enviadas à Coordenação Regional de Ensino para serem redistribuídas.