Não surpreendeu a ninguém a pífia participação do desgoverno Bolsonaro em dois recentes eventos internacionais, que tiveram no centro a discussão sobre a proteção do meio ambiente e as mudanças climáticas: a reunião do G-20, em Roma, e a COP-26, em Glasgow. Destaque para o cinismo de Bolsonaro, mentindo descaradamente sobre desmatamento na Amazônia, enquanto segue desmontando toda a estrutura de proteção ambiental. Tudo em prol de meia dúzia de latifundiários.
Já fizemos algumas vezes nesta coluna o desmascaramento das fake news plantadas pelos ruralistas, como a de que alimentam 1,5 bilhão de seres humanos. Trata-se de um segmento social que prosperou praticando a grilagem de terras públicas e a expulsão de posseiros, mediante assassinatos de lideranças camponesas e indígenas, promovendo em larga escala o trabalho escravo e infantil. E, mais recentemente, pressionando pela ocupação de terras indígenas e desafetação de unidades de conservação.
Meio ambiente
Não se envergonham de promover queimadas, assoreamento de rios, degradação do solo e derrubada da floresta amazônica, entupindo-a de vacas que geram milhões de toneladas de gás metano. Tudo isso sem gerar emprego, tampouco renda, visto que esta vai exclusivamente para seus bolsos.
Nos últimos 30 anos, de 1990 a 2020, a área cultivada no Brasil cresceu 82,8%, de 46 para 84,1 milhões de hectares. Ocorre que a área cultivada com soja, milho e cana-de-açúcar cresceu 143,7%, de 27,9 para 68 milhões de hectares (81% do total), enquanto a de todos os demais produtos agrícolas, inclusive os que vão para a mesa dos brasileiros (arroz, feijão, mandioca, banana etc) caiu 11%, perdendo 2 milhões de hectares, de 18,1 para 16,1 milhões.
Agricultura
O Brasil se transformou num imenso campo de soja, milho e cana, com produção voltada para exportação, alimentação de gado ou produção de etanol. Estudo revela que a produção de soja ocupa 15 EHA (Equivalente-homem-ano) por 1.000 hectares, ao passo que a produção de feijão ocupa 150 e a de café demanda 300. Embora ocupe 46% da área cultivada do País, a soja ocupa somente 5% da mão-de-obra agrícola.
E, à medida que os grãos e a cana avançam pelo cerrado, vão empurrando o gado para a floresta amazônica. O rebanho bovino do Brasil aumentou em 71 milhões de cabeças entre 1990 e 2020, mas 95% deste aumento ocorreu na Amazônia Legal.
Alguns municípios tiveram, no período, aumentos espetaculares do rebanho: Juara/MT (1.114%), Marabá/PA (1.757%), Porto Velho/RO (1.958%) e São Félix do Xingu/PA (incríveis 6.721%), de 34 mil para 2,36 milhões de cabeças. O único benefício do agronegócio é a geração de divisas, o que, de forma alguma compensa o imensurável custo social, ambiental e político por ele gerado.
Moro e Dallagnol
Neste 10 de novembro, o ex-juiz Sérgio Moro se filiou ao Podemos, partido pelo qual pretende disputar a Presidência da República em 2022. A este partido deve se filiar, também, Deltan Dallagnol, ex-chefe da Força-Tarefa da Lava Jato em Curitiba. Há quatro anos ambos eram tratados como super-heróis por parte da grande mídia e da classe média reacionária, embora fossem evidentes os propósitos políticos de ambos, na farsa montada contra Lula, inviabilizando sua candidatura e viabilizando a vitória de Bolsonaro.
A máscara começou a cair quando o Marreco de Maringá se tornou ministro de Bolsonaro e caiu definitivamente agora ao ingressarem no partido que reúne a nata do lavajatismo. O desprezo do povo brasileiro a essas duas figuras abjetas é o melhor presente que este colunista, aniversariando neste 10 de novembro, deseja receber.
(*) Doutor em Desenvolvimento Econômico Sustentável, ex-presidente da Codeplan e do Conselho Federal de Economia