Ricardo Nogueira Viana (*)
Em 20 de novembro de 1695, após várias incursões à Serra da Barriga, as tropas de Jorge Velho, comandadas por André Furtado de Mendonça, chegaram ao Quilombo de Palmares e assassinaram Zumbi e o restante do seu exército de resistência.
Em homenagem ao líder negro – o qual tem a sua biografia marcada por inações – afrodescendentes e antirracistas refletem sobre o passado, o presente e tentam erguer um depois. O pretérito do povo negro é marcado, principalmente, pela ausência de registros sobre a sua chegada, permanência e liberdade em solo brasileiro durante os séculos de escravidão.
A partir de 1535, foram aportados à América mais de 12 milhões de escravos oriundos de países africanos – o Brasil recebeu quase metade. Destes, 1,8 milhão morreram na travessia do Atlântico e foram arremessados aos tubarões. Vergonhosamente, fomos o último país da América a abolir a escravidão. Os negros eram tratados como coisa, tinham donos, imploravam por comida e sofriam castigos severos.
Lei Áurea
E quem eram essas pessoas, as quais deram origem a 56% da nossa população, segundo o IBGE. Sabemos quem somos, mas não de onde viemos. Após a Lei Áurea, o então ministro da Fazenda, Rui Barbosa, ordenou a destruição de todos os documentos relativos à posse de escravos. O intuito seria evitar o pedido de indenização por parte dos aristocratas, o que traria um efeito devastador às finanças do país.
Portanto, não há como se avançar na busca de nossa ascendência. Mas uma coisa é certa: se hoje vivemos, é porque um guerreiro foi capturado e subjugado, sobreviveu aos porões dos tumbeiros – navios negreiros –, foi comercializado, castigado e conseguiu se reproduzir para que aqui estivéssemos.
Consciência Negra
Dia da Consciência Negra é o momento de ressignificar o passado, apesar de poucos registros físicos, mas de muito sangue. Zumbi é singular, pois é um dos únicos negros contados pela História.
Quantos negros anônimos resistiram com suas vidas aos castigos severos, às incontáveis chibatadas, à subtração de suas crianças e à violência sexual. Estamos falando de pessoas, as quais, apesar consideradas coisas, objetos, sofreram, morreram e formaram, com suor e lágrimas, o povo brasileiro.
Também é o momento de avaliar o presente, consolidar balizas e prosseguir lutando por igualdade e respeito. Sim, não somos iguais. Desde uma abolição imprudente, a qual empurrou o povo negro para as margens da sociedade, à ausência de políticas públicas que o mantém nesta condição: ocupando favelas, cadeias e morrendo de forma hemorrágica.
Cotas sim!
Ações afirmativas não se restringem a cotas em universidades e concurso públicos, pois há falhas sensíveis na educação básica e o negro que habita favelas não tem o que comer e vestir, tampouco onde habitar.
Quanto ao futuro, será reflexo das nossas ações e omissões. Em 2022, seria o momento de união para que elegêssemos representantes compromissados com os anseios da negritude, pois somos muitos. A maioria vence, desde que saiba o que quer.
Eleger e nomear mandatários, não necessariamente negros, pois alguns que hoje ocupam as esferas de poder bradam por tolices, como uma escravidão benéfica ou que vivemos uma democracia racial. Mas, acreditar e eleger pessoas que tenham empatia com que o negro, sobrevivente desta sociedade hierarquizada, viveu e anseia para construir uma nação mais justa e igualitária.
(*) Delegado-chefe da 6ª DP e professor de Educação Física
** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasília Capital