Faz muito tempo, desde a primeira vez que o ouvi na Catedral Presbiteriana do Rio de Janeiro, este hino inesquecível ficou gravado na minha memória auditiva:
“Da linda pátria estou bem longe… / Cansado estou. / De Jesus, eu tenho saudades. / Oh, quando é que vou!
Passarinhos, belas flores, querem me encantar / Oh, terrestres esplendores / De longe enxergo o Lar!”
Eu cantava a plenos pulmões, unindo a minha voz a de outras centenas de fiéis que frequentavam os cultos dominicais. A frustrante realidade é que hoje, aos 91 anos de idade cronológica, já não tenho fôlego para repetir o desempenho de barítono amador, porém desafinado. Mas em compensação, só agora consegui captar e vivenciar a mensagem daqueles versos tão significativos.
De repente me dei conta que, mesmo de longe, estou começando a enxergar o Lar, como se fosse o vislumbre do Oriente Eterno. E esses versos sugerem a inexorável travessia do Rio Jordão, tal qual a versão evangélica, para saber o que está acontecendo de fato na outra margem: se é que existe alguma coisa do outro lado de lá, conforme afirmam os meus bons amigos espíritas, entre os quais alguns membros de minha linda família, além de meu saudoso pai.
Por falar nesses seguidores de Alan Kardec (embora continue presbiteriano), da parte deles só vejo bons exemplos e só ouço palavras de conforto espiritual, inclusive de minha filha Fernanda, que faz caridades como médium iluminada. E não obstante continue torcendo para que eu fique neste planetóide, caso aconteça o inevitável, ela garante que vou reencontrar no Oriente Eterno pessoas amadas, que já partiram.
Mas para falar a verdade, embora identificando as referidas saudades, eu prefiro parafrasear Ernest Hemingway, quando disse em As Correntes do Golfo, seu último romance: “O tempo é muito curto para passar junto das pessoas que amamos e ao lado de quem gostaríamos de ficar para sempre”.
É oportuno esclarecer que ainda não estou a fim de ir embora, definitivamente, não sem antes de passar a limpo esta minha longa jornada, na base do Ato de Contrição. E quem sabe conseguir ser perdoado, graças à infinita Misericórdia do Grande Arquiteto do Universo (que é Deus, na linguagem maçônica) dos inúmeros pecados que cometi sem ter a intenção de fazer mal aos meus semelhantes.
Amém!