Na segunda-feira (29), o Conselho Federal de Psicologia estabeleceu normas de atuação para os psicólogos em relação às pessoas transexuais e travestis. A resolução traz como base princípios fundamentais previstos na Constituição Federal, que expõem principalmente a igualdade e a liberdade dos seres humanos como condição nata perante a lei.
Essa conquista nos faz refletir a respeito dos estigmas que ainda vivemos a respeito das diferenças e das questões sociais que permeiam a cultura, a religião, as teorias e ideais de vida. Cabe iniciar essa reflexão, colocando a existência do ser humano como algo que precede qualquer pensamento, teoria, crença ou ideal. Dessa forma, em condição nata de existência, somos em igualdade, seres humanos, e nada além disso.
Ao longo da vida, somando vivências e experiências, externas e internas, seguimos construindo particularidades, que nos constituem indivíduos únicos. Assim é o caminho saudável da existência.
Porém, nascidos e inseridos em contextos prontos, nos quais as culturas regem padrões à risca, vivemos limites que minam nossas possibilidades de exercer nossas singularidades, gerando assim, os mais diversos conflitos pessoais, sociais, afetivos, dentre outros. A questão não é a liberdade de existência, mas sim, o julgamento social que o ser humano vive no exercício de sua liberdade.
Ainda hoje, vivemos grande dificuldade em lidar com o diferente, excluindo do nosso mundo aqueles que não são vistos como a normalidade. Prova dessa dificuldade é a necessidade de amparar, perante a lei, uma minoria que não se encaixa nos determinados padrões, sendo a lei, força maior, que intimida o ser humano e o coloca em posição de respeito. Quanto disso é preciso para nos compreendermos enquanto unidade?
Sabendo que somos seres de relação, ou seja, só existimos porque o outro existe, conseguimos pensar que as nossas particularidades é que nos fazem “servir” uns para os outros, agregando-nos e alimentando-nos, a fim de nos tornarmos a cada dia, seres humanos melhores para si, para o mundo e com o mundo.
E sabendo que o ser humano é um mutável e vulnerável, diretamente influenciado pelas variáveis que o rodeiam e, sendo essas variáveis imprevisíveis e desconhecidas, cabe refletir sobre as inúmeras formas de existir, já que, constantemente, cada um de nós, com sua percepção única da experiência, está respondendo às mais diversas demandas, das mais variadas situações que surgem, dando de si aquilo que lhe cabe e lhe é possível naquele momento.
É preciso desconstruir padrões. Afinal, somos todos igualmente únicos e singulares. Não há cura para a diferença. Não há cura para o que não é doença. É com a disposição para o expandir da consciência de cada um de nós que chegamos juntos cada vez mais perto do bem-estar coletivo que tanto almejamos.
Não há nada que se faça em individualidade que não reflita no outro. Cada vez que escolho a mim mesmo, estou escolhendo, também, todos os outros.
Que possamos, então, a cada dia, alimentarmos nossa consciência de uno e lutarmos uns pelos outros com paz e harmonia, sabendo que o todo somos todos nós.