Carlos Fernando (*)
Não é a distância que afasta médicos das unidades de saúde sob gestão do IGESDF ou da Secretaria de Saúde. O que afasta são as péssimas condições de trabalho, a falta de respeito profissional e de meios para dar um atendimento digno aos pacientes, além de uma definição clara de políticas de saúde adequadas às necessidades das populações das cidades do DF. Enfim: é a falta de gestão que afasta médicos da saúde pública do DF.
A justificativa do incômodo com a distância foi aventada no início da semana pela direção do IGESDF para justificar a falta de médicos nas unidades sob sua administração. Obviamente, qualquer trabalhador, em qualquer profissão, preferiria trabalhar mais perto de casa, em locais de fácil acesso. No entanto, quem trabalha com saúde, desde cedo na profissão tem a noção de que não vai passar suas horas de trabalho em locais esteticamente perfeitos ou com paisagem privilegiada na janela.
Todo mundo quer remuneração justa e condições dignas de trabalho. No caso de quem trabalha em saúde, essas “condições dignas” incluem o acesso aos meios e recursos para dar ao paciente a assistência de que ele necessita. No caso dos profissionais de saúde empregados pelo IGESDF e pela Secretaria de Saúde do DF, a rotina é de escassez de recursos e até de limitação de espaço físico e sobrecarga de demanda.
Mais incômodos que a eventual distância do local de trabalho, os processos de gestão não facilitam a vida dos profissionais de saúde no serviço público local. O próprio IGESDF foi criado com a falsa justificativa de que facilitaria contratações de profissionais e de que não deixaria faltar insumos.
Nada disso se concretizou: faltam profissionais e faltam insumos básicos o tempo todo. E, pior ainda, aumentou o custo da assistência à saúde da população. Gasta-se mais com o IGES do que se gastava quando todas as unidades de saúde estavam sob a administração direta do GDF. E, por causa disso, as unidades de saúde que continuam sob o comando direto do governo dispõem de menos recursos para continuar atendendo a nossa comunidade.
É muito cômodo transferir a responsabilidade pela falta de médicos aos profissionais da área. Mas a verdade é que, garantidas as condições adequadas, não falta médico no mercado de trabalho do DF para preencher as vagas no serviço público. Há limitações em algumas especialidades, mas nenhum estado brasileiro emprega um percentual da força de trabalho médica disponível do que o Distrito Federal.
Corrigir isso é uma questão de vontade política.
(*) Vice-presidente do Sindicato dos Médicos do Distrito Federal