Júlio Miragaya (*)
No domingo (8), dia em que morria no Rio de Janeiro um dos maiores artilheiros da história do futebol, Roberto Dinamite, ocorria em Brasília um episódio dos mais tristes da história do País: a invasão e ocupação, por hordas fascistas, da icônica Praça dos Três Poderes e a invasão e depredação das sedes dos Três Poderes da República: o Palácio do Planalto e as sedes do STF e do Congresso Nacional. Especula-se que esperavam, com o caos instalado, uma entrada em cena de um setor militar, o que não ocorreu.
Tratava-se de um fato cantado nas redes bolsonaristas, mas que, estranhamente, as áreas de segurança e inteligência não captaram. Não! Não há nada de estranho nisso: houve evidente omissão, colaboração e mesmo perfídia por parte de órgãos da área. A começar pelo Alto Comando das FFAA, que assiste desde 31 de outubro a organização, em inúmeras cidades, de acampamentos golpistas diante de quartéis, em áreas militares de circulação restrita, e as toleraram e até protegeram, dizendo tratar-se de manifestações democráticas e pacíficas.
O mais absurdo foi a resistência, pelo Comando Militar do Planalto em desmontar o acampamento diante do QG, mesmo após dele terem partido vândalos que, em 12 de dezembro, tentaram invadir a sede da PF, depredaram uma delegacia policial e queimaram vários ônibus e carros sem que a PMDF efetivasse uma única prisão. E o mais incrível: após o ocorrido, o recém-nomeado ministro da Defesa ter alegado que ali ocorria uma manifestação pacífica e democrática, na qual inclusive tinha amigos, assim como tinha parentes na de Recife.
Na linha do “festival de absurdos”, a PMDF – sob o comando do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, bolsonarista radical nomeado pelo governador Inganeis Rocha – simplesmente fez a escolta dos golpistas até a Esplanada, pelo Eixo Monumental, e simulou um bloqueio de 5 mil vândalos com um contingente minúsculo, pequenos gradis e gás de pimenta. Posteriormente, policiais ficaram tirando selfies e tomando água de coco numa barraquinha. Já o general Gonçalves Dias, ministro do Gabinete de Segurança Institucional, responsável pela segurança do Planalto, não apareceu no dia para uma única explicação da razão de o Palácio ter sido tão facilmente invadido e depredado.
Há 100 anos, em novembro de 1923, Hitler, ao lado do general Ludendorff, Goring, Rohm e Hess, promoveu o chamado Putsch da Cervejaria, com forças das SAs de Rohm e tropas regulares ocupando alguns órgãos públicos em Munique, objetivando tomar o poder na Baviera e dali marchar sobre Berlim. O golpe foi derrotado, Hitler foi preso juntamente com dezenas de nazistas e 16 desses foram mortos. Dez anos depois ele chegava ao poder pelo voto (de 33% dos alemães) e instaurava uma feroz ditadura.
É fato que 2023 não é 1923 ou 1933, que o Brasil não é a Alemanha e que Bolsonaro não é Hitler. Mas os golpes de Estado, civis ou militares, não saíram de moda. Estão aí os recentes exemplos da Bolívia, Honduras, Egito, Tailândia, Myamar, Peru etc. Felizmente, a aventura golpista mambembe em Brasília foi amplamente repudiada pela sociedade brasileira e pelos governos mundo afora.
É hora de o presidente Lula se afirmar e não se deixar tutelar. Ele é o Comandante-em-chefe das FFAA e a lição número 1 é, na Defesa, “não colocar uma galinha tomando conta do covil de raposas”.
População do DF e Entorno Metropolitano
Iniciado com atraso de dois anos, o Censo Demográfico 2022 ainda não foi finalizado, obrigando o IBGE a ter que fazer uma “projeção” da população brasileira para ser enviada ao TCU. Esperava-se a contagem de 215 milhões de brasileiros, mas a “projeção” apontou apenas 207,8 milhões. Na Região Metropolitana de Brasília foi apurado que no Distrito Federal, em vez dos esperados 3,15 milhões, o IBGE apurou 2.923 mil. Já nos 12 municípios do Entorno Metropolitano, a expectativa era de 1,3 milhão e o apurado foi 1.223 mil. No total da RM, 4.146 mil habitantes. A conferir numa agora necessária Contagem Populacional em 2025.
(*) Doutor em Desenvolvimento Econômico Sustentável, ex-presidente da Codeplan e do Conselho Federal de Economia