Uma forma reducionista de fazer ciência, que destaca de forma isolada benefícios ou malefícios dos nutrientes
Caroline Romeiro (*)
Nutricionismo é um termo que tem sido usado por alguns pesquisadores referindo-se à contração de reducionismo nutricional. Esse conceito foi criado por um autor chamado Scrinis para definir o que ele vê como uma distorção da maneira de estudar os alimentos atualmente. O nutricionismo tem um foco restrito aos nutrientes, ignorando a qualidade do alimento em si e a combinação entre os alimentos que formam o nosso padrão alimentar.
Tudo isso começa e tem sido reforçado por uma forma reducionista de fazer ciência e que destaca de forma isolada benefícios ou malefícios apenas dos nutrientes, tal forma de tratar a alimentação tem sido rapidamente incorporada pela indústria dos ultraprocessados, que amplifica alguns conceitos para vender mais produtos. Afinal, esse é o interesse maior da indústria.
Além disso, hoje enfrentamos uma realidade nas redes sociais cheias de pseudocelebridades que se apropriam de algumas informações e se acham no direito de dar orientações nutricionais – na maioria das vezes equivocadas –, o que traz confusão para a população sobre o que é saudável de fato e o que não é!
A ciência da Nutrição preza pelo respeito à cultura alimentar e pelo bom relacionamento das pessoas com os alimentos. A construção de um padrão alimentar saudável precisa ter como base os alimentos, afinal nós comemos cereais, leguminosas, frutas, hortaliças, carnes… E não carboidratos, proteínas e gorduras.
Claro que os nutrientes estão inseridos nos alimentos, mas a nossa relação precisa ser construída com os alimentos. O reducionismo abre espaço para o chamado terrorismo nutricional, o que traz uma série de repercussões negativas para essa construção saudável da alimentação.
(*) Presidente do Conselho Regional de Nutricionistas 1ª Região