Por muito tempo, a imagem social do nutricionista esteve atrelada a um estereótipo reducionista: o profissional magro, com “corpo ideal”, que prescreve dietas restritivas, voltadas exclusivamente ao emagrecimento. Esse imaginário, além de distorcido, não contempla a ampla diversidade de áreas de atuação da Nutrição, nem reconhece a pluralidade corporal e étnico-racial dos próprios profissionais da saúde.
Diante desse cenário, o Conselho Regional de Nutricionistas da 3ª Região (CRN-3), que compreende os estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul, lançou a campanha “Nutrição sem Estereótipo”, com o objetivo de combater os preconceitos associados à imagem do nutricionista e fortalecer uma Nutrição baseada em ciência, ética e respeito à diversidade.
A campanha é especialmente relevante na era das redes sociais, em que a busca por corpos “padrão” é incentivada por influenciadores e por promessas milagrosas de dietas e suplementos. Esse ambiente digital, muitas vezes desinforma, agrava questões de saúde mental e distorce o papel do nutricionista.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam o Brasil como um dos países com os maiores índices de depressão e ansiedade no mundo — um alerta que evidencia a urgência de uma abordagem nutricional acolhedora e livre de julgamentos.
Mais do que prescrever cardápios, o nutricionista atua na promoção da saúde em diversos contextos: alimentação escolar, segurança alimentar e nutricional, saúde pública, hospitais, unidades de terapia intensiva, saúde indígena, pesquisa, gastronomia, consultoria em políticas públicas e até em emergências humanitárias.
Reduzir esse profissional à figura de “fiscal de prato” ou a um corpo magro é desvalorizar uma ciência essencial à vida. Além disso, é fundamental romper com a ideia de que o nutricionista precisa performar um corpo idealizado para ter credibilidade.
Tal exigência reforça padrões estéticos excludentes, alimenta transtornos alimentares e afasta profissionais e pacientes da Nutrição baseada em evidências, em acolhimento e em escuta ativa. A Nutrição deve ser inclusiva, anticapacitista, antirracista e livre de gordofobia.
Iniciativas como a do CRN-3 ajudam a ressignificar o papel do nutricionista e promovem o cuidado integral com o outro, considerando a saúde física e emocional.
É hora de entender que corpo saudável não tem forma única, e que o bom profissional é aquele que, com empatia e conhecimento técnico, constrói estratégias alimentares viáveis e respeitosas para todos os corpos.
Nutrição sem estereótipo é também saúde mental, dignidade e ciência a serviço da vida.