Júlio Miragaya (*)
Desde as manipuladas manifestações de 2013, a principal palavra de ordem da direita tem sido “A nossa bandeira jamais será vermelha”, numa alusão às cores da bandeira do PT, que, na desvairada e cínica ótica bolsonarista, estaria implantando o comunismo no Brasil.
Mas, o que era óbvio para uma pequena parcela da população, foi agora escancarado para todo o povo brasileiro: não há nenhum patriotismo na “amarela” direita brasileira, pois seu projeto é de um país vassalo dos Estados Unidos, uma espécie de protetorado norte-americano.
Em 2016, a direita popularizou por aqui os bonezinhos “América First” (América em primeiro lugar), da campanha de Trump. Passados oito anos, na recente campanha eleitoral republicana, os bonezinhos ostentados pelas cabeças bolsonaristas foi o do MAGA, o “Make América Great Again” (Torne a América grande novamente).
Nem mesmo a ditadura militar brasileira foi tão longe na subserviência aos EUA, pois pregava, de forma ufanista, “O Brasil grande”. Já o bolsonarismo prega “Os Estados Unidos grande”.
Jair Bolsonaro enviou aos EUA seu filho Eduardo “Bananinha” para tramar e conspirar contra o Brasil. Conseguiu que o fascista Trump, na mais absurda interferência externa, aplicasse não apenas pesadas tarifas de 50% sobre nossas exportações, mas promovesse uma verdadeira Sanção Econômica ao Brasil por estar julgando o ex-presidente.
Após afirmar, risivelmente, que “Bolsonaro é um líder respeitado em todo o mundo”, Trump concluiu, em tom ameaçador, que “o julgamento de Bolsonaro deve acabar ‘Imediatamente’”. O aumento de tarifas de importação tendo por base motivação política é terminantemente vedado pelo direito comercial internacional.
Mas cadê a Organização Mundial do Comércio (OMC) para “peitar” o governo norte-americano? Trump passou por cima de leis internacionais e desprezou as próprias leis de seu país. Ou seja, agiu como “imperador do mundo”.
Quem expressou de forma mais descarada sua ação foi Steve Bannon, o inspirador do MAGA, que afirmou: “Derrubem o processo contra Bolsonaro, derrubamos as tarifas”.
Foi dito que Trump ficou irritado com algumas posições do Brasil na reunião do Brics, como a condenação do ataque ao Irã e com a discussão da necessidade de moedas alternativas ao dólar no comércio internacional. E daí? É um direito das nações.
Em sua carta, protestou contra as multas aplicadas às plataformas digitais norte-americana por não obedecerem a legislação brasileira (sic). E Trump sendo Trump, mentiu descaradamente ao afirmar que “o Brasil tem causado déficits comerciais insustentáveis aos EUA”, quando ocorre exatamente o contrário: há 15 anos o Império do Norte vem obtendo sucessivos superávits em seu comércio com o Brasil.
Prontamente a ação de Trump recebeu o apoio dos políticos da direita, como os governadores Tarcísio de Freitas e Romeu Zema. Que outro nome se pode dar a essas pessoas que não o de “Traidores da Pátria”.
Trump e Bolsonaro são como gêmeos siameses. O primeiro instigou, em 6 de janeiro de 2020, a invasão do Capitólio, sede do parlamento federal norte-americano, com o intuito de impedir a titulação de Biden. Já Bolsonaro planejou um golpe no Brasil, que teve como momento culminante a invasão e depredação das sedes dos três poderes em 8 de janeiro de 2023.
Mas Bolsonaro foi indiciado, tornado inelegível por 8 anos, vai ser julgado e deve ser condenado à prisão. Já Trump não foi julgado, foi liberado para concorrer às eleições de 2024 e foi eleito presidente dos EUA, confirmando a análise do Prêmio Nobel de Economia Paul Krugman, para quem a democracia já entrou em colapso nos EUA, que hoje se parece muito com um estado policial. Sim, a “ditadura velada” nos EUA perdeu seu véu.
FILME – Ao longo de seus 200 anos, o Brasil sofreu várias ameaças externas. Entre 1862 e 1865, ocorreu a chamada Questão Christie, com a Grã-Bretanha exigindo (sob a ameaça de sua potente marinha bombardear o Rio de Janeiro) uma indevida indenização brasileira. Em 1895 ocorreu a ocupação da ilha de Trindade pela marinha britânica, devolvida no ano seguinte ao Brasil. E em 1904 a Grã-Bretanha, em absurda arbitragem do rei italiano Vítor Emanuel III, tomou 19,6 mil km² da chamada região do Pirara (que seria parte do atual estado de Roraima), “cedida” pelo Brasil à Guiana inglesa.
De 1941 a 1945 a ameaça veio da Alemanha, quando seus submarinos torpedearam 35 navios brasileiros, causando a morte de 1.137 pessoas, o que levou à enorme mobilização popular e à decretação de guerra à Alemanha nazista pelo governo Vargas.
Já em 1964 houve a Operação “Brother Sam”, quando frota naval e aérea norte-americana foi deslocada para o litoral brasileiro para fornecer material bélico e suprimentos às forças militares brasileiras rebeladas contra o governo Jango.
E agora, uma nova e insana ameaça. Se um filme fosse feito para retratá-la, boa sugestão de nome seria: Nero e Calabar: o louco “dono do mundo” e o traidor da pátria.
(*) Doutor em Desenvolvimento Econômico Sustentável, ex-presidente da Codeplan (atual IPEDF) e do Conselho Federal de Economia