Carlos Fernando (*)
O GDF diz que a saúde do Distrito Federal está ótima. Que só não está melhor porque houve a pandemia da covid, que atrapalhou o melhor desempenho do governo nessa área essencial da vida dos cidadãos.
Bem, a pandemia não piorou a saúde do DF, que já caminhava mal antes dela. E dizer que está tudo bem, com tantos escândalos e suspeitas de corrupção (especialmente contra o IGESDF) por serem explicados, é, no mínimo, constrangedor.
Na onda do “está tudo bem, não poderia estar melhor”, há três semanas, a Secretaria de Saúde (SES-DF) afirmou estar preparada para enfrentar o surto de varíola dos macacos.
Mas foi preciso que, na última sexta-feira, o Ministério Público do DF (força tarefa de enfrentamento à covid) cobrasse alguma atitude para que a SES pelo menos informasse à população informações sobre os sintomas da doença.
Tem orçamento público para campanhas de utilidade pública, mas se a imprensa não faz esse papel, a população fica no escuro. Alguém viu uma campanha maciça do GDF de esclarecimento sobre a varíola dos macacos? Eu não vi.
Há duas semanas, a família do jovem que contraiu raiva humana (44 anos após o último registro no DF) veio a público informar que o gato que, de acordo com a SES-DF, teria sido o transmissor da doença para o rapaz, reapareceu saudável.
Portanto, não teria sido o animal que contaminou o jovem. A resposta da SES-DF foi que o gato encontrado pela família não é o mesmo que a própria família acolheu. Como se a SES, e não a família, conhecesse o animal.
A UnB é que veio a público explicar que os gatos que vivem pelo campus da Asa Norte são cuidados por uma ONG – pelo menos boa parte deles.
A SES-DF se esquivou, dizendo que não tem como vacinar animais que vivem na rua. Aliás, o GDF parece não saber o tamanho dessa população de animais que perambulam por nossas cidades.
Ainda na questão da raiva, o GDF alardeia ter vacinado mais de 170 mil cães e gatos. Essa quantidade representa meros 11% dos animais que vivem com famílias humanas do DF. Se as famílias não correm atrás, a vacinação do GDF não cria proteção nem por imunidade de rebanho.
Nessa fantasia do GDF sobre o sucesso de suas políticas de saúde, pelo jeito ainda vamos ter que ouvir que as pessoas que aguardam por consultas, exames e cirurgias têm que ficar felizes por estar na fila, porque pelo menos existe a fila para elas entrarem.
Como se a existência de um sistema público de saúde fosse um mérito de algum governante e não uma construção social de décadas, a qual tem sido negligenciada por governos que sucedem uns aos outros, desrespeitando o direito básico do cidadão de acesso à saúde.
A verdade é que não está tudo bem, e que insistir no rumo adotado pela gestão da saúde pelo governo Rollemberg e piorado pela atual gestão, é um erro de proporções catastróficas.
A verdade é que o que se fez pela saúde da população na atual gestão foi uma sequência de improvisos, sobre os quais ainda pesam suspeitas de desvios e mal uso de dinheiro dos contribuintes.
Não, definitivamente, a saúde do DF não está bem!
*Médico, Vice-presidente o Sindicato dos Médicos do Distrito Federal