Impasse político e divergências de pensamento impedem que haja novas opções de transporte para o passageiro em desembarque no Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek. Administrador do terminal, o consórcio Inframerica afirma lutar, há pelo menos dois anos, pela criação de um serviço de táxi pré-pago, mas o sindicato da categoria quer, primeiro, a regulamentação da Lei 5.323, de 2014. Mas não há previsão para isso acontecer.
“Há um monopólio de táxis no Aeroporto de Brasília que não deixa entrar outros serviços”, acusa o diretor Comercial da Inframerica, Sergio Rinaldo. Ele ainda revela se tratar de uma questão iniciada há mais de 15 anos e herdada pela empresa.
“Desde nossa chegada aqui, tentamos dialogar com eles, mas nada foi decidido. Brasília é uma cidade muito importante, mas o aeroporto tem serviços de 30 anos atrás”, critica Sergio, em referência ao tempo de operação do sindicato no aeroporto.
Credenciados
A categoria dos taxistas se defende, argumentando que qualquer profissional credenciado pode buscar clientes no aeroporto e afirmando apenas manter uma base no terminal. Para que o lugar de descanso dos taxistas seja mantido, é feito um rateio das despesas, repassadas aos motoristas utilizadores do espaço.
O sindicato também se escora na falta de regulamentação legal para que o serviço pré-pago ainda não seja oferecido e, apesar de já ter organizado um protesto no ano passado, garante também ter interesse nesta modalidade de corrida.
Serviço conveniência durou pouco
Em novembro do ano passado, o consórcio Inframerica inaugurou um espaço e passou a oferecer o chamado “táxi conveniência”, um embrião do serviço pré-pago, que durou poucas semanas devido à reclamação do sindicato da categoria.
A Secretaria de Mobilidade (à época chamada de Transportes) chegou a confeccionar um documento em parceria com o consórcio para regulamentar o serviço, mas o texto nunca foi publicado no Diário Oficial por rejeição das cooperativas de táxi.
Naquela ocasião, os credenciados alegaram prejuízo com a modalidade, já que uma única empresa operava o táxi conveniência e captava passageiros ainda na esteira de bagagens. “Brasília é o único aeroporto que administramos que sofre com esse monopólio”, reclama o diretor Comercial da Inframerica, Sergio Rinaldo. “Nos outros lugares, também os maiores do Brasil, há quatro ou cinco opções de táxi pré-pago”, compara.
Usuário cobra mais transparência
Alheios à briga, os passageiros se mostram favoráveis à possibilidade de pagar antecipadamente um valor fixo pela viagem. “De certo, seria mais prático”, admite a bailarina Ana Cecília Coutinho, de 33 anos, moradora de São Paulo (SP) em visita a parentes em Brasília. “O cliente poderia ter acesso a uma tabela para saber se o preço é bom e avaliar se compensa”, sugere.
Ela revela já ter se sentido enganada por taxistas, que teriam “dado voltas” e “passeado” com ela, encarecendo o custo final da viagem. “O pré-pago evitaria esse tipo de situação”, afirma.
Também atento à questão, o militar Robson Franco, de 38 anos, espera que, se aprovado, o preço fixo diminua a quantidade de “espertos”. “Como você já sabe o que vai gastar, não tem como enganarem você. Hoje em dia, eu coloco meu destino na internet antes para evitar que o cara fique enrolando”, conta Robson. Ele garante fazer a consulta virtual frequentemente, especialmente em cidades até então desconhecidas.
precauções
Para os empresários Wilton Pacheco, de 36 anos, e Jurandir Santos, de 45, em trânsito para Goiânia (GO) após viagem aos Estados Unidos, o serviço pré-pago seria o ideal, mas algumas precauções teriam que ser tomadas.
“Tem que ter uma tabela em um aplicativo ou algo assim para que consultássemos os preços, porque tem muito taxista aí que te enrolaria dizendo que o preço tabelado é tanto, quando na verdade poderia ser menor”, faz a ressalva Jurandir.
Já Wilton acredita que a demora do Aeroporto JK em oferecer o serviço tem motivos escusos. “Não é só vaidade dos taxistas em não deixar um novo tipo de concorrência, mas também há interesse econômico. Sem contar que eles teriam de ser claros quanto aos preços das corridas, e o prestador de serviços no Brasil, de modo geral, parece que não quer transparência”, levanta.
Outra forma de abordar passageiro
O secretário do Sindicato dos Permissionários de Táxis e Motoristas Auxiliares do Distrito Federal (Sinpetáxi), Sérgio Aureliano e Silva, reafirma o posicionamento contrário ao serviço pré-pago, alegando que ele pode ter custo maior. E ainda reclama do modelo que chegou a ser usado no ano passado, chamado de táxi conveniência.
“Eles tinham balcão na esteira das malas, com moças que já ofereciam o serviço, dizendo que era especial”, relembra. Apesar do questionamento, este padrão de serviço é comum em outros aeroportos.
Sergio Rinaldo, diretor Comercial da Inframerica, por sua vez, defende a manutenção do serviço e classifica como ruim o trabalho atualmente feito pelos taxistas no aeroporto. “O preço nunca é o mesmo e os motoristas não falam inglês. Para o passageiro que vem de fora, a porta de entrada é o aeroporto, e táxi é parte fundamental, então não pode ter um serviço assim”, conclui o diretor.
Movimento recorde em janeiro
O ano começou com registro de movimento recorde no Aeroporto de Brasília. No primeiro mês de 2015, mais de 1,76 milhão de pessoas utilizaram o terminal brasiliense para embarcar, desembarcar e se conectar a outras cidades do País. Um crescimento que representa 11% a mais do que o mesmo período do ano passado.
O mês de janeiro ultrapassou dezembro de 2014, que, com 1,69 milhão de passageiros, havia sido considerado o maior movimento do aeroporto. Mesmo com a grande movimentação das festas de final de ano, o primeiro mês de 2015 foi maior, recebendo uma média de 56,5 mil pessoas por dia. O número de pousos e decolagens foi de 15.825, 4% a mais do que em 2014.
Exterior
A movimentação internacional também surpreendeu no mês. O aumento foi de 35% em relação ao ano passado. Aproximadamente 63 mil passageiros viajaram para o exterior passando pelo Aeroporto de Brasília.
Há dois anos, o aeroporto vem registrando crescimento contínuo. O ano de 2014 encerrou com a marca de 18,1 milhões de passageiros, superando em 10% a movimentação de 2013. Com isso, se consolidou como o segundo maior aeroporto em movimentação de passageiros do País e o terceiro em movimentação internacional. Além disso, o Aeroporto de Brasília é um dos maiores hubs (centros de distribuição de voos) do País.