Chico Sant’Anna
A mobilidade está entre as prioridades do eleitorado do Distrito Federal. Porém, pelo que foi exposto no debate da BandTV, o tema não recebe a devida atenção por parte dos buritizáveis, que foram superficiais, sem propostas e projetos. O que veio a público é desalentador.
Rafael Parente (PSB) frisou o desejo de reintroduzir o transporte por vans, de triste lembrança para o brasiliense. Um meio de transporte precário, sucateado, com motoristas despreparados apostando corrida pelas ruas, causando acidentes a todo momento.
As vans são improdutivas, transportam no máximo cerca de 20 passageiros; não contribuem para o conjunto do sistema, tornando a passagem do metrô e dos ônibus mais caras e, em muitos lugares, estão vinculadas ao mundo do crime e servem até para lavagem de dinheiro.
Os 3,2 milhões de habitantes do DF precisam com urgência de um sistema de transporte coletivo de massa, com qualidade, conforto e pontualidade. Já são quase dois milhões de veículos a trafegar. É necessário investir em modais que transportem maior quantidade de passageiros, como metrô, VLT, e corredores expressos de ônibus. Vans não solucionarão o problema.
Ninguém teve coragem de falar sobre o trem regional para Luziânia. Há vinte anos, candidatos prometem implantá-lo e depois esquecem.
Anzol eleitoreiro
À coluna, Parente alegou que suas vans serão diferentes: elétricas, chamadas por aplicativo e destinadas ao último trecho da viagem – que os técnicos chamam de última milha.
A carência de transporte público que chegue até o destino final do passageiro é uma realidade no DF. Em alguns pontos, a bicicleta de aluguel foi disponibilizada. Mas não adianta focar a última milha, se todo o restante do circuito está capenga. Urge a conclusão das duas linhas atuais do metrô e a implantação de novas linhas, além do VLT.
Assim como Joaquim Roriz ganhou popularidade legalizando as vans no DF, a proposta extemporânea de Parente parece ser apenas um anzol eleitoreiro para chamar a atenção de motoristas autônomos desempregados.
Gama – Santa Maria
Nenhum candidato falou em trocar por transporte sobre trilhos os projetos atuais de Ibaneis Rocha de criar a via Interbairros (Samambaia-Plano Piloto) e a construção da Saída Norte 2.
Quem falou em novas linhas de metrô foi Leila Barros (PSB). Ela defendeu linha entre Gama e Santa Maria. Como assim? Uma linha solta, desconectada do restante do sistema metroviário, sem conexão com o Plano Piloto, para onde se destinam 70% dos passageiros? Parece mais um anzol eleitoral na busca de importante fatia do eleitorado local.
Na gestão de Joaquim Roriz, o projeto de expansão do metrô previa duas linhas saindo do Gama: uma para a Rodoferroviária e outra para Ceilândia.
A primeira contava, inclusive, com financiamento liberado pelo governo federal. Mas foi substituída nas gestões de José Roberto Arruda, Rogério Rosso e Agnelo Queiroz pelo BRT-Sul, que não foi capaz de fazer com que os moradores deixassem seus carros em casa.
A da Ceilândia interconectava a parte Sul-Sudoeste do DF – o passageiro sairia do Setor 0 e chegaria ao Gama, sem ter que ir ao Plano Piloto – e fomentaria um desenvolvimento que não fosse Plano Piloto centrista. Se estivesse funcionando, estudar no Campus da UnB do Gama não seria uma odisseia para quem mora em Ceilândia, e vice-versa.
Subsídios
A candidata do Psol, Keka Bagno, questionou os subsídios bilionários que as empresas de ônibus têm recebido do GDF, sem fornecer, em contrapartida, serviço de qualidade; e a omissão de realizar nova licitação, tarefa já determinada pela Justiça, que julgou irregular a licitação realizada na gestão Agnelo.
Com menos de um terço do que repassou às empresas de ônibus, Ibaneis já poderia ter feito o metrô chegar à Expansão de Samambaia e ao Setor O. Esta última seria um alivio para quem vem de Águas Lindas (GO) e de Brazlândia. Ibaneis preferiu o rodoviarismo.
Como recomendou Leila Barros, os candidatos devem andar mais de ônibus, de metrô. Poderiam também pegar van pirata e enfrentar engarrafamentos às 5h da manhã vindo do Entorno. Vivenciem aquilo que seus eleitores experimentam cotidianamente.
Foi a primeira parada. Vamos ver como o trem vai andar nos próximos debates!
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